Sem recursos financeiros para fazer face às despesas do óbito, a sua vizinha Paula do Nascimento Jamba, moradora no bairro, lançou uma campanha de solidariedade para auxiliar a família enlutada.

É nos momentos mais difíceis que o brilho da solidariedade e mais intenso.

"Bom dia dona Maria, Bom dia tia Paula. Já tem informação sobre o falecimento da neta do tio Tomás? Estamos aqui a recolher alguns alimentos para ajudar a família...". Foi assim que Paula Jamba se dirigiu à vizinha.

A resposta foi rápida: - "Aguardem um pouco...".

A dona Maria voltou trazendo nos braços aquilo que foi a sua contribuição para ajudar a família de José Tomás a enfrentar a difícil perda da neta, dando início, com este primeiro passo, a uma caminhada que acabou com mais de 60 quilos de arroz, oito litros de óleo, fuba de milho, alguns quilos de peixe seco e conservas de carne.

Depois de feita a recolha entre os vizinhos, os alimentos são colocados numa cozinha onde são preparados diversos pratos com os quais a família vai acolher todos aqueles que a vão confortar com a sua presença durante o período do óbito e até que o corpo desce à terra, a sua última morada.

Rapidamente se organiza uma espécie de comissão que organiza as refeições e toda a logística que envolve o momento, desde a cozinheira e quem ajuda, até à disponibilização dos pratos, tachos, etc.

É a solidariedade da comunidade para os menos afortunados, pelo luto e pelas dificuldades financeiras.

"A comissão organizadora, com ajuda da família enlutada, tudo faz para servir as pessoas presentes no óbito. É Assim que temos de agir, sobretudo nesta fase da crise", contou o Novo Jornal Online, Paula do Nascimento.

Esta prática é já uma realidade, especialmente nas zonas suburbanas da capital do país, onde os actos de solidariedade quando alguém morre se multiplicam, especialmente para com os mais pobres.

A necessidade faz o engenho e foi assim que, perante a grave crise que o país atravessa, foi possível manter a tradição de acolher de forma digna aqueles que recebem pessoas em sua casa nestas circunstâncias.

O Novo Jornal Online constatou que em alguns bairros, por causa das dificuldades financeiras, esta tradição começa a perder terreno.

O pastor da igreja Cristo Renovado no Mundo, Alberto Suque, que fez a cerimónia religiosa durante o funeral, disse ao Novo Jornal Online que este tipo de respostas comunitárias revelam o melhor das pessoas e que isso "não pode deixar de agradar a Deus".

"Ter a compaixão por aqueles que estão em dificuldade é algo essencial para a felicidade da nossa comunidade", acrescentou.

O sociólogo Sarmento Tuyango Neto explica esta resposta das comunidade com a circunstância actual, porque os "momentos de crise fazem as pessoas reflectirem sobre a sua própria condição social e seus valores".

"Um gesto tão simples como este pode ter um impacto profundo para quem está aflito", acrescenta, Sarmento Tuyango Neto.

Segundo ele, "quem estiver de luto, a viver outra dificuldade, precisa sempre de ajuda, palavras reconfortantes e um abraço forte", até porque todos sabem que é mais fácil ser ajudado quando se demonstra disponibilidade para ajudar.

Mas há quem se aproveite da solidariedade

Com o crescente recurso a esta solução, começaram igualmente a surgir casos em que alguns percebera que se podiam aproveitar da natureza solidária das comunidades, fazendo recolhas fictícias para depois desviarem os bens, ou apenas desviando uma parte dos bens alimentares recolhidos numa situação real.

Carlota Ndima, uma anciã com quem o Novo Jornal Online falou, conhecedora da situação, disse que, para já, são os mais jovens que procuram tirar proveito disso, ou porque não têm educação e vivem de expedientes, ou porque não têm consciência da importância da solidariedade e que um dia pode calhar a eles precisar.

"Quando acontecem situações do género, tomamos logo medidas", garantiu, embora estes casos se venham a multiplicar.

Por exemplo, no óbito da neta de José Tomas, um jovem que ficou encarregado de visitar as cantinas do bairro, recolheu mais de 30 quilos de alimentos, mas nem um chegou ao óbito.

"O apoio não chegou a família enlutada e tivemos que castigar o tipo", disse ao Novo Jornal Online um dos coordenadores do bairro Maria Eugenia Neto, no distrito Urbano do município de Kilamba Kiaxi.

As comissões de moradores dos bairros encaram com satisfação este tipo de acções quando as pessoas estão com dificuldades para resolver alguns problemas.

"Vamos ajudar-nos uns aos outros para conseguir ultrapassar problemas difíceis", disse ao Novo Jornal Online Mateus Bimbe Paulo, um membro da comissão de moradores no bairro Victoria é Certa, no Golf II