Alertado por um telefonema anónimo para a alegada traição da esposa, que estaria envolvida com um funcionário de um deputado do MPLA, Ermírio Jamba Calima decidiu averiguar. Segundo o irmão da vítima Daniel Chiwape, a chamada fazia referência ao local onde o adultério estaria a ser consumado: uma fazenda, propriedade do parlamentar do partido no poder.

"O meu irmão foi até ao local para constatar se a sua esposa estaria lá ou não. Quando chegou conseguiu acesso ao recinto, mas de seguida teve uma discussão com um dos funcionários que o atendeu", conta Daniel, em declarações ao NJOnline.

Segundo a mesma fonte, como "Calima não encontrou a esposa naquela fazenda, decidiu regressar à unidade onde se encontrava de serviço", tendo a detenção ocorrido mais tarde.

"Tivemos conhecimento que o funcionário que entrou em confronto com o meu irmão disse ao deputado [seu chefe e dono da fazenda] que um polícia da Unidade de Guarda Fronteiras tinha lá ido ameaçá-los", relata, acrescentando que o parlamentar apresentou queixa às autoridades.

De acordo com Daniel, o deputado - cuja identidade o NJOnline está a tentar confirmar - ligou para o Comandante Provincial do Moxico, comissário Dias do Nascimento, para participar que a sua fazenda tinha sido invadida por um agente da Polícia de Guarda Fronteiras, que também tinha ameaçado os seus funcionários.

Perante a denúncia, o comandante mandou ordenar a detenção de Ermírio Jamba Calima, e orientou que fosse transferido do Lumbala-Nguimbo para a cidade do Luena, no sentido de o manter detido nas instalações do SPIC.

Segundo o irmão da vítima, a família deixou de ter contacto com Calima desde que foi ordenada a sua detenção, no passado dia 6 de Agosto.

"Até o comandante da unidade onde Calima trabalhava diz que desconhecia as causas da sua detenção e se surpreendeu com a notícia. Isso não passa de um mero jogo entre eles, só queremos que a justiça seja feita", reclama, reforçando que a história está mal contada.

"Não aceitavam falar o que estava a acontecer em concreto com o meu irmão. Ficámos sem ter notícias dele durante algum tempo até que, no dia 8, ouvimos por alto que estava morto na morgue do Hospital Geral do Moxico. Fomos até ao local e constatámos a veracidade dos factos", lamenta Daniel, que exige uma autópsia.

"Dizem que não têm médico especializado para fazer este exame no Laboratório de Criminalística, mas não vamos realizar o enterro sem a autópsia", sublinha o irmão da vítima, garantindo que Calima estava bem de saúde.

Para além disso, aponta, o cadáver foi encontrado "com sinais de agressões e torturas, numa das câmaras da morgue daquele hospital onde são postos os cadáveres recolhidos na via pública".

Entretanto, PGR abriu um inquérito para apurar as causas da morte de Ermírio Jamba Calima, disse ao NJOnline fonte da Procuradoria-Geral junto do SIC na província do Moxico, que não quis ser identificada.

Já o Director Provincial de Investigação Criminal no Moxico, subcomissário Américo Naval Hugo dos Prazeres, recusou comentar o processo.

"Não estou autorizado a falar sobre este caso, só posso falar se o comandante provincial autorizar", justifica.