O julgamento, que estava marcado para o mês de Dezembro, foi remarcado para este dia 10 de Janeiro, garantiu ao NJOnline uma fonte do tribunal que não quis ser identificada.

Consta da acusação que, no dia 12 de Março, o agente de 2º, Gonçalo Sacala Canga, fazia parte de um grupo de efectivos que efectuava patrulhamento na zona do Rocha Pinto, concretamente na Avenida 21 de Janeiro, no quadro da "Operação Resgate", levada a cabo pelo comando geral da Polícia Nacional naquele período.

Segundo a acusação, na data dos factos, os efectivos da polícia verificaram que havia uma venda desordenada na zona da "Padaria" e, em função disso, começaram a retirar à força todos os bens das vendedoras que se encontravam na via pública, colocando-os na viatura policial.

No local encontrava-se também a infeliz Juliana Cafrique, que comercializava tomates, e, tal como muitos outros vendedores, se recusou a abandonar aquele local. A mulher viu então a viatura da polícia a pisar o seu alguidar, destruindo-lhe o negócio.

Apesar da viatura da polícia estar em marcha, os vendedores foram retirando os seus bens apreendidos da carrinha.

Diante da pressão dos vendedores em retirar da carroçaria os produtos, refere a acusação, o agente da polícia, agora réu, Gonçalo Sacala Canga, retirou a sua arma de fogo e desferiu dois disparos à queima-roupa, tendo um dos disparos atingido Juliana Cafrique, que teve morte imediata no local.

A atitude do agente da polícia provocou a revolta da população, que reagiu arremessando pedras e outros objectos contra os efectivos.

A polícia teve dificuldades para repor a ordem e a tranquilidade, pois a morte da "zungueira" criou tumultos entre a PN e os cidadãos naquela zona da Maianga.

Na ocasião, o director do gabinete institucional e imprensa, da delegação do Ministério do Interior em Luanda, intendente Mateus Rodrigues, afirmou em conferência de imprensa que nada justificava o disparo mortal feito pelo agente.

Já o comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, pediu desculpas à família de Juliana Cafrique e à sociedade, chegando mesmo a afirmar que o agente da corporação falhou durante a sua actuação e que nunca deveria ter utilizado a arma de fogo diante de uma cidadã indefesa.

"Sempre aconselhámos os nossos efectivos a que, no caso de os cidadãos que fazem a venda ambulante estarem a prejudicar o trânsito e a afectar a ordem pública, devem somente recomendar-lhes para se retirarem dos locais, de forma pedagógica, evitando usar a arma de fogo", precisou.

Gonçalo Sacala Canga, de 36 anos, vai ser julgado pelo crime de homicídio voluntário e será defendido por um advogado oficioso.