O que estes países, que partilham geograficamente o projecto transfronteiriço de conservação Kavango-Zambese, apresentam como justificação para esta proposta, que vai ser apresentada em Agosto, na Suíça, durante a Conferência da Convenção Internacional para o Comércio de Espécies Ameaçadas (CITES, na sigla em inglês), é que é preciso ter em conta as especificidades de cada situação, porque a norma internacional, a denominada fórmula em inglês one-size-fits-all - uma medida para todos os tamanhos, não se adapta da mesma forma a todas as circunstâncias.

Em cima da mesa, tendo o tema sido parte dos trabalhos da Cimeira em Victoria Falls, na terça-feira, que envolveu estes cinco países no Zimbabué, para discutir as questões económicas em torno dos projectos de conservação, está a ideia de que é "injusto" que a medida inserida no mecanismo internacional de proibição de comércio de espécies ameaçadas de extinção, como é claramente o caso do elefante africano, seja aplicada de forma cega em todos os casos.

Isto, porque estes países assumem como certo que o seu caso tem especificidades que devem ser atendidas quando a proposta for analisada em Genebra, na Suíça, no próximo mês de Agosto.

Por exemplo, como relata o The Guardian, o Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, lembrou que o seu país tem actualmente 600 milhões de dólares norte-americanos em marfim de elefante e chifres de rinoceronte em stock,, sendo que, como o negócio deste é ilegal e não tem, por isso, uma tabela de preços fixada internacionalmente, o que deve estar subjacente a esta declaração é que Mnangagwa se refere ao valor do mercado ilegal, nomeadamente asiático, que absorve a quase totalidade do marfim e dos chifres de rinocerontes abatidos ilegalmente em África.

O Presidente zimbabueano disse mesmo que a norma one size fits all impede os países de utilizarem os dividendos da venda de marfim armazenado para financiarem programas de conservação de espécies em risco de extinção, como, por exemplo, supõe-se, seriam investidos os 600 milhões que o Zimbabué tem, apesar da extraordinária crise económica e social que o país atravessa.

O CITES é um programa internacional a que os países aderem de forma voluntária e que Emmerson Mnangagwa afirma que estes nele se querem manter, ao mesmo tempo que diz que a proibição é "injusta", apelando a que este organismo considere uma maior versatilidade na sua norma global, porque isso seria importante para impulsionar alguns projectos que carecem de financiamento mas que são fundamentais para a protecção de espécies.

Recorde-se que o Botsuana, através de uma iniciativa do seu Presidente Mokgweetsi Masisi, decidiu levantar algumas restrições ao abate de elefantes para o turismo de caça grossa, gerando uma forte controvérsia internacional, como o NJOnline noticiou na altura, porque alegou que as manadas estavam a destruir fazendas agrícolas no país.

O The Guardian recorda que a Namíbia, o Zimbabué e o Botsuana, que contam com 61 por cento dos elefantes em todo o continente nos seus territórios, já tinham feito um pedido de suspensão desta proibição de comercialização de marfim.

O Presidente da Namíbia, Hage Geingob, no sentido de apoiar esta iniciativa, tal como o seu homólogo do Botsuana, refere que o seu país observa hoje um grave conflito entre as comunidades humanas e a vida selvagem por causa, entre outras razões, da prolongada seca, porque "as boas políticas conservacionistas" permitiram um grande aumento da vida selvagem.

Geingob vai ainda mais longe e lembra que há quem pense que os animais "têm mais direitos que as pessoas" esquecendo-se que com a venda de alguns dos seus produtos, é possível dar melhores condições de vida às pessoas que, por sua vez, vão aceitar e entender melhor os esforços de conservação.

Face a esta pressão dos cinco países austrais - Angola, Botsuana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabué -, a secretária-geral do CITES, Ivonne Higuero, já admitiu que a questão da venda de marfim de elefante é um dos temas que vai ser debatido na Suíça, em Agosto, na Conferência da Convenção Internacional para o Comércio de Espécies Ameaçadas que vai ter lugar em Genebra.

Higuero lembrou ainda que, se por um lado, há países que defendem a suspensão do embargo, há, por outro lado, um conjunto de países, com o Quénia à frente, que estão claramente contra qualquer cedência à proibição total, pedindo mesmo que os elefantes austrais sejam colocados na lista dos mais ameaçados.

"Enquanto secretária-geral da CITES, ao escutar estas propostas, entendo que é chegado o momento de discutir este assunto de forma aberta, porque há países que querem claramente o assunto em cima da mesa", disse Ivonne Higuero.

Uma das ONG mais activas na defesa dos gigantes africanos, a Espaço para os Gigantes, segundo o seu director-executivo, Max Graham, os países africanos que querem suspender a proibição não estão a querer ver que o turismo com base na observação da vida selvagem, especialmente os elefantes, que são os mais procurados e, por isso, valiosos, pode ser muito mais rentável que qualquer venda de marfim.

Por outro lado, a sua venda, é um indicador para que os potenciais turistas neste sector, evitem os países que permitem essa venda como destino turístico.

Graham lembra ainda que o sector do turismo na África Austral é um dos que mais cresce em todo o mundo e deverá duplicar até 2030 e Angola já disse que quer estar na linha da frente dos investimentos neste sector.