Esta catástrofe para Angola surge enquadrada por uma vaga de destruição de florestas virgens em todo o mundo, onde, por cada ano que passa, o planeta está a perder, em média, cerca de 90 mil quilómetros quadrados, o equivalente à área de um país como Portugal.

Em Angola, apesar de haver outras pequenas áreas de florestas com estas características, as preocupações centram-se no Mayombe, em Cabinda, e nos Dembos, no Bengo, com prolongamentos para o Uíge, Kwanza Norte e Zaire.

A preocupação é ainda maior quando o mesmo estudo revela que desde o início do século, o ritmo de destruição estás a crescer de forma exponencial e, segundo os dados actuais, nos últimos 18 anos o mundo perdeu 10 por cento das suas florestas virgens, que simplesmente desapareceram ou foram irreversivelmente danificadas.

Os grandes responsáveis por esta destruição massiva de florestas virgens, na sua maior parte concentradas nos trópicos, são as monoculturas, com destaque para a produção de óleo de palma na Ásia e em África, ou as plantações de soja em várias partes do mundo, com especial incidência na América do Sul.

Os dados agora revelados resultam da análise de imagens de satélite colhidas nos últimos meses.

Frances Seymour, cientista do World Resources Institute, um dos integrantes da equipa que desenvolveu este estudo, citada pelas agências, refere que se está perante "uma tragédia global" porque se está a destruir "um elemento-chave" da estabilidade climática devido ao seu papel único e insubstituível na captura de carbono e na salvaguarda da biodiversidade, essencial para a continuidade das espécies, incluindo a humana.

O risco para Angola, a que se juntam outros países, advém da sua exploração insustentável, quer comercial, como o abate de árvores para exportação, especialmente por algumas empresas estrangeiras que não respeitam quaisquer critérios de sustentabilidade ambiental, quer por causas de uso tradicional, como as queimadas para pastagens, caça ilegal ou produção caseira, ou semi-industrial, de carvão e madeira de queima para cozinhar.

O estudo indica que se o ritmo de destruição se mantiver semelhante ao que se assiste hoje, estas florestas vão desaparecer, até 2030, em países como o Paraguai ou a Guiné-Equatorial, e 10 anos depois, em 2040, serão extintas em Angola ou na República Centro-Africana.

Uma janela para o futuro daquilo que será Angola dentro de escassos 20 anos é o que se passa já no Gabão ou na República do Congo, onde metade das suas floretas primordiais sufocarem perante os ataques dos madeireiros, ou nos Camarões, onde a situação é bastante mais grave, com 90 por cento dessas florestas transformadas em mobiliário em países ocidentais ou na China, e em carvão ou pastagens, pelas populações locais.