Sete meses depois do assassinato de Osvaldo Manuel Pacavira Narciso "Maju", como era conhecido o jovem que deixou três filhos e uma viúva, começou na quarta-feira o julgamento que estava marcado para terça-feira, 14, mas foi adiado por ausência justificada de um dos réus.

O julgamento tem como arguidos Edson Ernesto Fútila, Sílvio Massango, ambos com 23 anos, Amadeo Joaquim de 34 e Evénio Pontes de 30.

Os réus Edson Ernesto Fútila e Sílvio Massango são acusados de co-autoria dos crimes de homicídio qualificado, roubo qualificado, ocultação de cadáver e posse ilegal de arma de fogo.

Enquanto Amadeo Joaquim e Evénio Pontes são acusados na qualidade de cúmplices nos crimes de homicídio qualificado, roubo e posse ilegal de arma de fogo.

Segundo a acusação do Ministério Publico (MP), o arguido Edson conheceu Osvaldo Narciso em 2017 (vítima), que na altura se encontrava a vender uma viatura de marca BMW.

Edson mostrou-se interessado em comprar a referida viatura e depois de alguma negociação entre ambos comprou-a, num valor não esclarecido nos autos.

O procurador conta que, enquanto negociavam, Edson apercebeu-se de vários aspectos sociais da vida de Osvaldo Narciso, que era detentor de varias viaturas de alta cilindrada e que parqueava as mesmas no parque do edifício D3, no Condomínio Dolce Vita, no município de Talatona.

"Edson percebeu que Osvaldo possuía assessórios caríssimos e de moda, como telefones, pulseiras, relógio etc. E que habitualmente guardava grandes somos de dinheiro no interior das suas viaturas", descreveu representante do MP, José Maria Gustavo.

Edson Fútila, ao ver todos aqueles bens, contou ainda o representante do MP, ficou deslumbrado e criou convicção de tê-los a qualquer custo, principalmente a viatura de maraca Jaguar, modelo FX, de cor vermelha, que a vítima muito estimava.

Com o desejo de obter os bens alheios, segundo a acusação, em data não esclarecida, Edson Fútila contactou Sílvio Massango, mais conhecido como "Bobinho", também arguido, e ambos arquitectaram o esquema do crime.

"Edson e Sílvio decidiram adquirir uma arma de fogo do tipo pistola, de forma a concretizar o assalto. Edson contactou seu amigo Amadeo Joaquim para que esse arranjasse uma arma de fogo para realizarem o assalto", explicou.

O arguido Amadeo Joaquim contactou, por sua vez, sempre segundo o relato da acusação, o seu amigo Evénio Pontes, agente da Polícia Nacional, destacado nos serviços de guarda-fronteira, e informou-o que tinha um amigo que pretendia obter uma pistola e este o vendeu-lha no valor de 80 mil kwanzas.

Segundo o MP, na altura que era feita a compra da pistola, Amadeo e Evénio ainda propuseram a Edson que poderiam realizar o assalto e a eliminação física da vítima pelo preço de 20 milhões de kwanzas. Mas Edson negou-se a pagar.

Em posse da arma, os arguidos Edson e Sílvio foram estudando qual seria o melhor dia para execução do assalto.

E foi assim que, no dia 22 de Janeiro, para além da arma, os dois arguidos muniram-se de duas seringas contendo águas de bateria e um capacete de motorizada com a viseira do capacete pintada em preto para não serem identificados.

Com os meios citados, refere o MP, Edson e Sílvio deslocaram-se ao, edifício D3, no Condomínio Dolce Vita, em Talatona.

No prédio, os acusados entraram a bordo de uma viatura Hyundai i10 e dirigiram-se para o estacionamento, onde estavam os veículos Jaguar, modelo FX, Toyota Land Cruiser, modelo Prado e um Lexus 570, todos pertencente a vítima.

"Os dois arguidos apropriaram-se do Jaguar e ao revistarem o mesmo encontraram sacos e caixas com dinheiro no valor de 8,4 milhões de Kwanzas. Ambos retiraram os valores e levaram para o veículo de que se faziam acompanhar, enquanto aguardavam a chegada da vítima", salienta José Maria Gustavo, acrescentando que, "minutos depois, Osvaldo Narciso entrou para o estacionamento, a bordo de um Mitsubishi Pajero, e, ao descer, foi surpreendido pelos dois, tendo Edson injectado uma seringa com água de bateria na zona lombar".

Durante a bordagem, contou o representante do MP, a vítima debatia-se muito e gritava por socorro e conseguiu morder um dos dedos da mão direita do arguido Edson quando este tentava tapar-lhe a boca.

Edson e Sílvio usaram a superioridade numérica e desferiram vários socos, pontapés, golpes com a cronha da arma atingindo-o na cabeça e noutras partes do corpo".

Segundo consta dos autos, a intenção de ambos era atirar o corpo da vítima para um rio ou para o mar de forma a não deixar vestígio.

Assim sendo, os arguidos colocaram o corpo de "Maju" na parte traseira do Toyota Land Cruiser e levaram-no até às imediações da Centralidade do Kilamba, onde pensavam que existia um rio.

Já próximo da Centralidade do Kilamba, os acusados visualizaram um cidadão a bordo de uma motorizada carregando consigo um vasilhame de cinco litros de combustível.

"Prontamente Edson e Sílvio tiveram a ideia de queimar o corpo da vítima, para isso pagaram cinco mil kz ao motoqueiro e levaram o corpo para uma área muito isolada e tentaram carbonizá-lo, mas o isqueiro da viatura de Osvaldo Narciso não acendia", conta ainda o MP.

Como se fazia tarde, os mesmos abandonaram o corpo no local e dirigiram-se até uma das ruas do Largo Patriota onde se desfizeram do material do crime.

Abandonaram a viatura da vítima na via pública e ambos regressaram ao condomínio Dolce Vita, de táxi personalizado, e retiraram os mais de oito milhões de kz que haviam deixado no carro em que se faziam acompanhar, detalha o Ministério Público.

Dirigiram-se novamente ao Largo Patriota onde fizeram a divisão dos bens furtados, tento o arguido Edson Fútila ficado com o Jaguar FX mais 7,4 de milhões de kwanzas e outros meios.

Sílvio Massango ficou com a quantia de um milhão de kwanzas, com a qual comprou um telemóvel.

Súbito desaparecimento gera inquietação na família

Entretanto, os familiares de Osvaldo Narciso, preocupados com o seu súbito desaparecimento, foram fazendo diligências para localizá-lo, sendo assim que constatam que Edson Fútila estava na posse da viatura Jaguar FX, carro preferido da vítima. Inconformados, os parentes de Osvaldo Narciso levaram Edson à polícia, onde acabou por confessar o crime.

O colectivo de juízes da 14.ª secção do Tribunal Provincial de Luanda, encabeçado por João Paulino, questionou ao reu Edson Fútila, autor principal, se concordava com os crimes de que vem acusado, tendo o mesmo respondido que sim.

Perguntado ainda porque matou Osvaldo Narciso, Edson respondeu em tom baixo: "Não sei o que passou na minha cabeça, ando arrependido e não quero lembrar mais disso. Me esta a fazer muito mal".

O advogado da família, António Joaquim, disse, no arranque da audiência, que não há nenhuma dúvida sobre o caracter ilícito dos co-arguidos.

"Estamos todos alinhados quanto à verificação dos pressupostos que a Lei faz. Nesta perspectiva, resta aos juízes desde tribunal condenar os co-arguidos e a garantir que reparam e compensam os danos não patrimoniais causados", salientou o advogado.

"Assim se mostra ajustado e adequado o pagamento de uma indeminização cujo montante deve ser arbitrado numa quantia não inferior a 50 milhões de kwanzas", conclui.