Valter Filipe, que durante a sessão de hoje voltou a sentir-se mal por alguns minutos, abandonou a sala em lágrimas, uma situação que levou o juiz a perguntar aos presentes se havia um médico na sala para socorrer o ex-governador do BNA.

O ex-responsável do banco central contou, esta manhã, sentado no banco dos réus, que já foi ameaçado de morte três vezes por "elementos não identificados".

"Eu quero dizer neste tribunal que a minha vida está em risco, pois já fui ameaçado três vezes por um elemento não identificado. Este processo envolve muita gente, e não são quaisquer pessoas. Eu sou apenas capim", afirmou.

"A primeira vez foi quando regressei a Angola, a segunda foi há três meses e a terceira muito recentemente", disse, sem precisar datas.

O juiz presidente, João da Cruz Pitra, aconselhou então o arguido a dirigir-se ao Serviço de Investigação Criminal para que preste declarações sobre o assunto.

Valter Filipe disse ainda durante o seu interrogatório que, no dia 24 de Outubro, após ter chegado de Londres com a delegação do BNA e do Ministério das Finanças, foi convocado para uma reunião com o Presidente da República João Lourenço em que também participaram o ministro de Estado para Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião, e o então ministro das Finanças, Archer Mangueira.

Segundo o réu, o Presidente da República disse-lhe nesse encontro que as empresas com as quais foram firmados contratos não eram sérias ou não existiam e que as pessoas não tinham idoneidade, portanto, que se fizesse o estorno da operação.

"Eu disse ao PR que não tinha conhecimento desses dados. Pelo espanto que senti, o Presidente pediu então a Archer Mangueira para que o informasse do seu parecer", disse o ex-governador do BNA, acrescentando que o então ministro Archer Mangueira repetiu o que disse João Lourenço - "que as empresas não eram idóneas, eram inexistentes e que, as pessoas não eram sérias e não tinham capacidade de realizar aquela operação".

De acordo com Valter Filipe, o então ministro das Finanças, Archer Mangueira, pediu ao PR para dar ordens ao BNA, concretamente ao governador, para pedir o estorno da operação.

"Respondi ao PR que aquela situação não era necessária porque o consórcio Mais Financial Services e Resource Partnership haviam violado os contratos celebrados com o BNA e que tinha ordenado aos colaboradores do BNA para elaborarem um ofício a notificar a rescisão do contrato e a requerer a imediata devolução dos 500 milhões USD".

Durante o seu interrogatório Valter Filipe apelou ao tribunal para não atribuir qualquer responsabilidade civil ou criminal ao ex-diretor do Departamento Gestão de Reserva do Banco Nacional de Angola (BNA), António Samalia Bule Manuel, também réu no processo, porque, segundo contou, apenas recebeu uma orientação directa sua.

O interrogatório do réu Walter Filipe terminou esta sexta-feira. O julgamento regressa a 14 de janeiro de 2020, com a audição das testemunhas.