A cidadania em Angola "tem servido para duas coisas: para pagar impostos, principalmente desde que os governantes estão a fazer um pouco mais de contas e para, de cinco em cinco anos, ir legitimar eleições", considera a professora universitária Cesaltina Abreu, que interveio no segundo dia das terceiras Jornadas da Cidadania da Mosaiko.

Para a docente, a cidadania deve ser entendida enquanto "criação de espaços socais de luta, seja através de movimentos sociais, mas, acima de tudo, através da criação de plataformas, principalmente com base na vida associativa", realidade que diz não existir no país.

Entre nós "há uma cidadania passiva, aquela que é adoptada na Constituição", sublinha Cesaltina Abreu.

Já Alexandra Simeão, antiga vice-ministra da Educação, que também interveio no debate, lamenta que o exercício da cidadania no país esteja "estritamente centrado na participação em eleições".

"Quando tentamos exercer outro tipo de cidadania, somos automaticamente conotados como amigos da guerra ou inimigos da paz e, por outro lado, também somos conotados como pessoas que não valorizaram o grande esforço, que só para um grupo é que é visível", assinala.

A ex-governante classifica de "fingida" a cidadania angolana, e aponta como exemplo disso a mobilização de muitos estudantes universitários em período eleitoral.

"E é aqui que de facto eu gostaria de chamar a atenção, porque para mim, a noção e importância da cidadania deve começar à nascença - e é isto que temos que exigir -, com direitos iguais para todas as pessoas", sublinha.

Alexandra Simeão defendeu ainda que enquanto houver "uma sociedade desigual, a cidadania é quase nula".