Os denominados "testes de conhecimento", que são decisivos para a escolha dos 99 vencedores desde concorrido concurso nacional, começaram a ser realizados na segunda-feira, na capital angolana, e terminam na quinta-feira, 15, sob fortes críticas dos concorrentes que se deslocaram de mais longe, como contaram alguns destes ao NJOnline, sublinhando que se sentem "angolanos de segunda" face aos concorrentes de Luanda ou das províncias mais próximas.

Os candidatos que chegaram a esta fase do concurso público de ingresso na AGT, de todo o País, foram seleccionados num leque de 91 mil inscritos para três carreiras do Regime Especial Tributário e outras três do Regime Geral, cujos testes se realizaram online no passado mês de Junho, através da página da AGT na internet.

Os candidatos estão obrigados a comparecer nas instalações do Instituto de Formação de Finanças Públicas (INFORFIP), em Luanda, uma hora antes do horário marcado para o início dos testes, situação que deixa muitos dos candidatos, sobretudo aqueles que estão fora de Luanda, e que não têm como se deslocar para a capital do País, fora do concurso.

Em declarações ao NJOnline vários concorrentes que se deslocaram das suas províncias para Luanda disseram que não estão a perceber o modo como a AGT está a conduzir o concurso público, admitindo que alguns angolanos se sintam menos cidadãos que outros apenas porque vivem em províncias mais distantes da capital.

"Angola não é só Luanda. Existem pessoas noutras províncias que não conseguiram vir a Luanda fazer os testes por falta de recursos financeiros ou porque como acontece de forma sistemática, os transportes falharam à última da hora, inviabilizando a deslocação", narraram.

Adilson Francisco veio da província da Lunda-sul e contou ao NJOnline que ele e o seu irmão mais novo estiveram apurados para esta fase do concurso mas por falta de dinheiro para se hospedar em Luanda, onde não têm familiares, o seu irmão teve de ficar na Lunda-sul e perdeu o concurso.

Uma jovem que concorre para a vaga de Técnico Médio de Tributário de 3ª Classe, na província de Cabinda, e que não quis ser identificada, com medo represálias, contou que não há razões para que as pessoas saiam das suas zonas de origem para vir fazer o teste na capital, porque o mesmo é de âmbito nacional e não provincial.

"Cabinda é a única província do País que a ligação é por voo, eu tive que sair dela para vir fazer um teste de apenas uma hora em Luanda. Isso não se compreende, será que só os de Luanda é que são cidadãos?", questionou a jovem, desolada.

"Porque é que nós do interior temos que vir a Luanda fazer os testes de admissão se o mesmo é nacional? Onde está o direito à igualdade de oportunidades?", lamentaram vários concorrentes ao NJOnline, lembrando que é por causa destas situações que quem vive nas outras províncias está sempre a pensar em ir viver para a capital.

Um oficial superior da Polícia Nacional, que acompanhou o seu sobrinho ao teste no INFORFIP, que também não quis ser identificado, contou ao NJOnline que o seu familiar veio do Cunene para concorrer a vaga de Técnico Superior Tributário de 2ª Classe.

Aquele oficial lamentou o facto de as pessoas terem que se deslocar de uma província para outra com o propósito de efectuar os testes e questiona: "Será que eles vão trabalhar todos em Luanda? A AGT só existe Lunada? Mas em que País estamos afinal?".

No Instituto de Formação de Finanças Públicas (INFORFIP) o NJOnline encontrou, entre os concorrentes, um grupo de cinco jovens que vieram da Província do Namibe e que arrendaram, por uma semana, um quarto no Bairro do Mártires de Kifangondo.

Manuela, Albertina e Fátima contaram que ainda tiveram dificuldades para encontrarem o INFORFIP, que segundo afirmaram, não é de fácil localização em Luanda.

As jovens não compreendem os motivos que levaram a AGT a exigir que todos os candidatos ao concurso de ingresso viessem a Luanda para fazerem os testes presencialmente.

"A AGT começou a excluir candidatos, com essa medida, porque nem todos conseguiram vir a Luanda fazer os testes de admissão", disseram as concorrentes à vaga de Técnico Superior Tributário de 2ª Classe.

Segundo o comunicado da AGT a não comparência presencial dos concorrentes nas instalações do INFORFIP, em Luanda, nos dias do concurso serão considerados excluídos.

O NJOnline contactou o Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da Administração Geral Tributária (AGT) para devido esclarecimento mas a resposta foi a ausência de resposta.