John Nkengasong (na foto), numa intervenção organizada pela União Africana, onde esteve também o director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), sublinhou que é "fundamental" que os países africanos tratem de garantir já o acesso a vacinas suficientes para que, quando estas surgirem, não fiquem na cauda da lista.

O director do CDC africano disse ainda que, "a não ser que os países africanos actuem já, corem sérios riscos de ficaram de fora da corrida mundial pela vacina", aconselhando de forma concreta a que sejam feitas já as encomendas que garantam o número suficiente de unidades para as diversas necessidades.

Este alerta surge horas depois de a União Africana (UA) ter lançado uma plataforma online denominada "Plataforma Africana para o Fornecimento de Material Médico - Africa Medical Supplies Platform" onde pretende, através da junção de esforços dos Estados-membros, garantir que o continente acede a material médico e futuros medicamentos/vacinas contra a Covid-19 a preços baixos e sem ficar para trás em relação a outras geografias.

Um dos problemas que as organizações internacionais que lutam contra a pobreza, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), têm enfatizado é a possibilidade de alguns países, ou mesmo regiões do mundo, poderem ficar para trás na corrida às vacinas que estão a ser desenvolvidas em cerca de uma dezena de laboratórios de outros tantos países, sendo que África aparece como particularmente vulnerável a este risco devido à sua escassa influência na política global.

Recorde-se que em algumas sub-regiões, como a América Latina, o acesso garantido a futuras vacinas foi conseguida porque países como o Brasil se disponibilizaram para que a testagem da eficácia das vacinas em humanos fosse realizada no seu território, como acaba de suceder igualmente na África do Sul, o mesmo sucedendo na Europa e nos EUA, apesar de ser nestes países que essa pesquisa está a ser realizada.

John Nkengasong, perante a urgência de não ficar para trás, o continente deveria alinhar, com a Aliança GAVI, que visa garantir vacinas a todos e em todo o mundo, nos esforços em curso para que os mais pobres tenham acesso à vacina quando esta surgir a par dos países mais desenvolvidos, tendo, para isso, reunido já cerca de 2 mil milhões USD através dos doadores internacionais.

Entretanto, o Director-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na mesma ocasião, advertiu para o facto de a pandemia da Covid-19 estar em forte crescendo, dando mesmo o exemplo dos números iniciais, quando foi necessário um mês para 1 milhão de infecções e agora essa cifra foi atingida em apenas uma semana.

Nesta conferência online sobre o desenvolvimento de vacinas e o acesso a estas em África, organizada pela UA, o chefe da OMS sublinhou que estão em curso 220 processos de criação de vacinas para a Covid-19 e que estão também a ser criadas condições para a sua distribuição planetária a uma escala sem precedentes.

Mas sublinhou que as primeiras doses terão de ser entregues a quem mais faz sentido fazê-lo, como os profissionais de saúde e as pessoas em maior risco, devendo ser esses os critérios fundamentais.

Isto, porque a pressão vai ser muito grande e a capacidade de produção vai estar aquém da demanda e é "necessário criar condições para que a prioridade não seja atribuída a quem tiver mais capacidade para pagar", apontando a solidariedade como o único caminho possível.