De um lado está a Asperbras, multinacional de origem brasileira liderada por José Roberto Colnaghi, já acusado dos crimes de corrupção no comércio internacional e branqueamento de capitais referentes a negócios na República do Congo, do outro aparece a austríaca GOTRANS GmbH Vienna.

A primeira é parte de um contrato de 383,5 milhões de dólares conduzido pelo Ministério dos Transportes para compra de 1.500 autocarros escolares, a segunda de outro de 306,8 milhões de dólares, igualmente para aquisição de 1.500 autocarros escolares, mas agora sob comando do Ministério das Finanças.

Ambos os negócios foram autorizados por despachos presidenciais assinados por José Eduardo dos Santos - números 279/16 e 219/17 -, o primeiro publicado em Diário da República a 15 de Setembro de 2016, e o outro a 3 de Agosto deste ano.

Para além das semelhanças nos valores comercializados (mais de 300 milhões de dólares) e nas quantidades negociadas (1.500 autocarros) - os dois contratos apontam para a mesma morada e os mesmos responsáveis.

A coincidência confirma-se com simples pesquisas online: a partir do site da Asperbras conseguimos chegar à representação da empresa na Áustria, cuja morada é a mesma da GOTRANS (Schulhof 6, 1010 Viena).

As duas empresas partilham ainda os nomes Jakob Hirschbaeck e Julianna Neumayer, que surgem em relatórios financeiros da Asperbras Holding GmbH como directores gerais e também surgem ligados à GOTRANS através de outra empresa: a Fidux Management Services GmbH, igualmente situada em Schulhof 6, 1010 Viena, e especializada na administração de activos, prestando apoio a fundos de investimento, operações transacionais e gestão de heranças.

A sucessão de pontos de contacto, que as diferentes datas de negócio e os diferentes nomes das firmas parecem dispostos a esconder, levanta ainda mais suspeitas pelo rasto judicial que envolve José Roberto Colnaghi, presidente da Asperbras e o seu director financeiro, José Maurício Caldeira.

Ambos são arguidos no âmbito da operação "Rota do Atlântico", lançada pelas autoridades portuguesas para investigar crimes de corrupção activa no comércio internacional, branqueamento de capitais, tráfico de influências, participação económica em negócio e fraude fiscal qualificada.

O principal contrato na mira dos investigadores lusos envolve a construção de um complexo industrial e comercial de Maloukou, localizado nos arredores da capital da República do Congo, Brazzaville. O projecto terá sido atribuído à Asperbras com suborno de ministros congoleses.

A par das acusações sobre a actividade no Congo, José Roberto Colnaghi enfrentou uma investigação na chamada Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos por causa de operações em Angola que foram financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) e também teve o seu nome associado ao escândalo Mensalão - de pagamento de subornos a políticos para aprovação ou bloqueio de leis.