Afonso Kilemba, o secretário-geral do sindicato, avançou que a greve será um facto no próximo mês caso o GPSL não satisfizer parte das exigências apresentadas no caderno reivindicativo e deixar de dar respostas políticas.

Segundo o sindicalista, em função da resposta da entidade patronal, que não é satisfatória, surgiu a necessidade de o Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda reunir em plenária esta quarta-feira, 20, para ser tomada a decisão da realização da greve no próximo mês.

Caso nesse tempo a entidade empregadora e o Governo Provincial de Luanda não disponibilizarem condições nas unidades sanitárias da capital, a greve será realizada em todas as unidades de saúde dos níveis primeiros e secundários de Luanda", avisou.

Afonso Kilemba explicou que a vontade da maioria dos enfermeiros não é a greve, mas sim a satisfação dos principais problemas básicos que afligem os profissionais e que vão beneficiar os próprios, as unidades de saúde e a população que acorre aos hospitais.

De acordo com o líder sindical, a falta de matérias gastáveis nos hospitais faz com que muitos profissionais sejam agredidos física e verbalmente pelos familiares dos pacientes.

"Somos insultados, ameaçados e muitas vezes agredidos pelos pacientes ou familiares quando não há medicamentos para os atender. Porquê? Porque o patrão diz que há medicamentos nos hospitais, quando, na verdade, não há nem sequer luvas para os socorrer, daí a insatisfação de muitos e quem sofre com tudo isso somos nós", descreveu o sindicalista.

Vários enfermeiros disseram ao Novo Jornal que deste o começo da pandemia da Covid-19 no País, a classe tem sido muito prejudicada, comparativamente com a classe dos médicos.

Marta Bento, enfermeira há 18 anos, contou que nos hospitais onde trabalha não há condições para funcionar, e diz que o "Governo engana as pessoas quando afirma que há condições nos hospitais".

"É tudo mentira, façam visitas surpresa às unidades municipais e verão a realidade. Não há materiais gastáveis e se há então não chegam aos hospitais, dão-nos uma máscara e quatro pares de luvas para 24 horas, isso não é normal. É triste quando um paciente chega ao banco de urgência e não temos nada para o atender", disse.

Segundo Marta Bento, que trabalha no Hospital Municipal do Cazenga, às vezes são mal entendidos quando solicitam aos pacientes ou aos familiares para que comprem material para serem assistidos, tudo porque o Estado vende a imagem de que está tudo bem, e que há medicamentos para os pacientes, "quando, na verdade, não há".

"Se não tivermos cuidado levamos um soco. E muitas vezes temos de comprar medicamentos com o nosso dinheiro para acudir aqueles pacientes que chegam ao hospital sem condições e com crianças", afirmou.

Entretanto, constam do caderno reivindicativo 16 pontos, onde se destacam: o abastecimento regular de fármacos, materiais gastáveis e de biossegurança em todas as unidades sanitárias da cidade de Luanda, a implementação dos subsídios de horas extras, o regulamento da carreira de enfermagem, a criação de condições para assistência medica-medicamentosa dos profissionais de enfermagem e os seus familiares, bem como abertura de concurso público interno ou de adequação de categoria e o cumprimento obrigatório das 36 horas e não 44 por semana.

Sobre o assunto, o Novo Jornal tentou sem sucesso ouvir o Gabinete Provincial de Saúde de Luanda para devidos pronunciamentos, no entanto, uma fonte desde sector, que preferiu não ser identificada, disse que o GPSL tem todo interesse em continuar a dialogar com o sindicato para em conjunto identificar soluções dos problemas.