Rafael Marques acusou, em 2016, num artigo publicado no seu site Maka Angola, o então Procurador-Geral da República (PGR), João Maria Sousa, de corrupção, alegação que tem reiterado nos últimos dois anos e que promete repetir em tribunal, quando se iniciar o seu julgamento por "crimes de injúrias a órgão de soberania", na sequência dessa publicação.

Embora o jornalista se tenha mantido fiel às suas palavras, João Maria Sousa não acredita que o mesmo vá para tribunal com o mesmo discurso.

"Vamos ver até onde é que chega a coragem, até porque uma coisa são as convicções que determinada pessoa tem e outra coisa é a realidade factual e jurídica relacionada com a questão", desafiou hoje o ex-PGR, à margem da cerimónia de abertura do ano judicial 2018, presidida pelo Presidente João Lourenço.

A 'prova dos nove' só poderá fazer-se com o início do julgamento, adiado na semana passada, ainda que Rafael Marques garanta já que vai apresentar provas do que escreveu, acrescentando que pretende comparecer em tribunal para "afirmar que ele (João Maria de Sousa) é corrupto".

"O julgamento está marcado e tem de acontecer, tem de haver uma condenação ou uma absolvição. Agora, como é que eu tendo denunciado uma corrupção sou acusado de cometer crimes contra a segurança do Estado?", questionou o jornalista, em declarações à agência Lusa.

Na origem da acusação contra Rafael Marques está uma notícia de Novembro de 2016, com o título "Procurador-Geral da República envolvido em corrupção", que denunciava o negócio alegadamente ilícito, realizado por João Maria de Sousa - que cessou funções de procurador-geral da República no final de 2017 -, envolvendo um terreno de três hectares em Porto Amboim, província do Kwanza Sul, para construção de condomínio residencial.

Segundo o magistrado - que lembra que "como qualquer outro cidadão tem direitos" - essa transacção nada teve de ilegal.

"Manifestei o meu interesse, posteriormente achei que não valia a pena, em função dos relevos do referido terreno, que era assim um terreno escarpado. A intenção era colocar algumas casas de madeira junto à praia, era um aglomerado de quatro casas familiares", explicou hoje, à margem da abertura do ano judicial.

Em declarações citadas pela agência Lusa, o ex-PGR questionou porque é que o autor do Maka Angola "de repente" lhe atribuiu o "título de corrupto, pelo facto de ter requerido aquele espaço".

"A única coisa que eu gostaria de saber é onde é que Rafael Marques trabalha, do que é que vive, o que é que ganha. Se calhar isso iria ajudar para eu fazer alguma conjectura, enquanto isso não sei", observou.

João Maria Sousa esclareceu ainda que moveu este processo para defender o seu bom nome, honra e dignidade.