Os trabalhadores acusam o departamento de cemitérios e morgues do Governo Provincial de Luanda (GPL), de nada fazer para que a situação seja resolvida.

A informação foi prestada ao NJOnline por alguns funcionários dos referidos cemitérios, que pediram anonimato com medo de represálias, e contaram que têm vivido situações difíceis desde que foram desactivados das folhas salariais do Ministério das Finanças (MINFIN) no passado mês de Abril.

"Nós fomos surpreendidos com essa medida do Ministério das Finanças, porque nunca antes fomos notificados palas nossas direcções. Sempre que íamos ao banco e não encontrávamos dinheiro, sabíamos apenas que não estavam a pagar- nos", disseram os trabalhadores ouvidos pelo NJOnline.

Os visados explicaram que só tiveram conhecimento no mês de Junho que estavam desactivados do Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado (SIGFE), ferramenta que oferece o suporte tecnológico para o pagamento dos salários, e que o Departamento de Cemitérios e Morgues do GPL prometeu que haveria de rever o problema junto do MINFIN, situação que, segundo contam, não têm conhecimento se foi ou não transmitida.

"Trabalhamos diariamente e cumprimos com as nossas obrigações, temos famílias a sustentar, queremos os nossos salários", lamentaram os vários chefes de família.

Sobre o assunto o NJOnline contactou o chefe do departamento de cemitérios e morgues do Governo Provincial de Luanda, Filipe Mahapi, para os necessários esclarecimentos mas o responsável não se mostrou disponível para conversar com o NJOnline.

As dificuldades dos trabalhadores dos cemitérios

No cemitério da Mulemba, também conhecido como Catorze, no município do Cazenga, mais de 40 funcionários estão com salários suspensos, desde que o cemitério ficou interdito à realização de funerais, desde Maio último, por se ter verificado a extenuação de lugares para campas.

No entanto, a interdição não abrange as famílias que têm sepulcros, tumbas ou jazigos há mais de cinco anos, devidamente registados. Dois funcionários, que cuidam da manutenção daquele campo santo há 20 anos, contaram que não percebem como é possível uns trabalhadores serem activados e outros não, quando o processo é o mesmo.

"Há três colegas de direcção que também estiveram nessa situação, mas que já estão a receber os seus salários, mas a maioria ainda não, parece que há filhos e enteados. Temos de fazer sacrifícios para vir trabalhar, porque, apesar de o cemitério estar encerrado, os trabalhos aqui não terminaram, pois nós temos de colocar o cemitério limpo visto, que é um lugar público e recebemos visitas diárias", disseram.

Uma outra funcionária que se juntou à conversa disse que tem os dois filhos fora do colégio onde estudavam por falta de pagamento das propinas.

"Meus filhos já não estão a estudar há dois meses, foram expulsos da escola, eu sou viúva e estou a passar mal, às vezes são as minhas vizinhas que me dão um pouco de comida para comer com as crianças", disse a mulher entristecida.

"Quem entra no Alto das Cruzes pensa que está tudo bem, estamos sem salários há sete meses e temos de trabalhar para manter o cemitério com boa aparência, mesmo sem condições, e não estão a resolver o nosso problema, aqui vêm pessoas de todos os tratos da sociedade e ninguém olha para nós?", questiona um funcionário do Alto das Cruzes.

Um coveiro do cemitério do Camama disse ao NJOnline que têm trabalhado para o vazio, pois todo esforço não está a ser compensado.

"Trabalhamos diariamente, às vezes com agressões físicas da parte dos familiares que vêm fazer os funerais, já ganhamos mal, e ainda nos cortam os salários como fossemos fantasmas. Eu estou com dívidas altíssimas, por causa da falta de salário, para comer tenho de fazer serviço de Kupapata, no Calemba II, no final do serviço aqui no cemitério", disse o jovem, visivelmente insatisfeito.

De recordar que, na província de Luanda, para além dos cemitérios do Alto das Cruzes, Santa Ana, Camama, Mulemba e Benfica, existem outros como o da Funda, no Município de Cacuaco, Viana e do Icolo e Bengo.