Num comunicado, a ex-presidente do Conselho de Administração da Sonangol, exonerada pelo Presidente da República, João Lourenço, em Novembro de 2017, explica que a decisão de não prosseguir com a queixa-crime do processo por difamação contra Carlos Saturnino, "tem por base o facto da opinião pública estar suficientemente esclarecida quanto à verdade e de estarem restabelecidos os factos".

"No actual contexto de febre político-mediática, decidi não alimentar mais a controvérsia, especialmente porque, depois de todas as minhas detalhadas explicações, tornou-se bastante claro e evidente para a opinião pública que as acções levadas a cabo por Carlos Saturnino foram deliberadamente mal-intencionadas e cujas alegações são infundadas", lê-se no comunicado.

A filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos escreve ainda, no mesmo documento, que acredita que as várias entrevistas que concedeu sobre este assunto, bem como os comentários públicos que emitiu, "foram bastante esclarecedores, no sentido de informar a opinião pública sobre a falsidade das acusações proferidas".

"As suas (de Saturnino) acusações não passaram de alegações sem qualquer evidência factual, nem fundamentos, motivados apenas por uma vingança pessoal", continua.

"Os factos e as verdades sobre o meu exercício enquanto Presidente do Conselho de Administração da Sonangol foram por mim amplamente comunicados e provados, não havendo assim necessidade de dar continuidade ao processo", termina o comunicado de Isabel dos Santos.

De recordar que Carlos Saturnino denunciou, na sua primeira conferência de imprensa enquanto PCA da Sonangol, a existência de uma transferência de 38 milhões de dólares feita pela administração cessante, acusando, por diversas vezes, Isabel dos Santos de má-gestão da empresa petrolífera.

"Tomámos posse no dia 16 de Novembro de 2017 e nesse dia, à noite, apercebemo-nos que o administrador que cuidava das finanças na Sonangol, embora tivesse sido exonerado no dia 15, ordenou uma transferência no valor de 38 milhões de dólares para a Matter Business Solution, com sede no Dubai", acusou Carlos Saturnino.

O presidente do conselho de administração disse ainda que a transferência em causa foi efectuada através do banco BIC, onde a sua antecessora, Isabel dos Santos, é accionista.

"Acho que isso dispensa comentários. Não foi o único caso. No dia 17 de novembro, houve o pagamento de mais quatro facturas também. Ou seja, como é que pessoas que tinham sido exoneradas pelo Governo ainda faziam transferências. Não pode ser um acto de boa fé de certeza absoluta", afirmou Saturnino.

A 02 de Março deste ano, a PGR abriu um inquérito para apurar as denúncias feitas pelo actual PCA da Sonangol, que, entretanto, foi alvo de uma queixa-crime por difamação apresentada por Isabel dos Santos.

Num comunicado, a PGR indicou, na altura, que o inquérito visa "investigar os factos ocorridos, bem como o eventual enquadramento jurídico-criminal dos mesmos".

Dias depois, Isabel dos Santos negou as acusações e considerou-as "infundadas", afirmando-se "confortável" com o inquérito aberto pela PGR, desafiando o presidente da Sonangol a apresentar a demissão.

Isabel dos Santos acusou Carlos Saturnino de "procurar buscar um bode expiatório para esconder o passado negro" da empresa, afirmando que, em 2016, encontrou a Sonangol "em falência".

A 03 de Agosto, o procurador-geral da República, Hélder Pitta Grós, indicou que Isabel dos Santos fora notificada para prestar esclarecimentos em dois processos-crimes, um em que é acusada e outro em que é a queixosa.