Mais de 100 crianças, maioritariamente menores de cinco anos, padecem com hidrocefalia e com necessidade urgente de cirurgia para evitar que a fatalidade da doença as leve à morte. O Centro Neurocirúrgico de Tratamento da Hidrocefalia (CNTH) - o único no país especializado para cirurgias de tratamento de crianças hidrocéfalas - continua sem capacidade financeira para dar resposta aos casos que todos os dias chegam àquela instituição. Razão que levou o CNTH a suspender as cirurgias durante três meses em 2019. Durante a paralisação, pelo menos 12 crianças, das 90 que aguardavam por cirurgia, faleceram.

Na altura, o administrador do hospital, José de Sousa, justificou a paralisação como protesto para chamar a atenção do Estado, para que olhasse para o centro com mais seriedade a fim de este deixar de depender de caridade e doações.

A direcção do CNTH há cerca de 15 anos que «chora» ao Ministério da Saúde (MINSA) pela inclusão do centro na lista das instituições de saúde que recebem dinheiro do Orçamento Geral do Estado (OGE). Da parte do MINSA, a resposta não muda. Não é possível concretizar o pedido porque o CNTH não é estatal.

Apesar da rejeição, o ministério dirigido por Sílvia Lucutuca prometeu, no ano passado, ajudar o centro com a aquisição de equipamentos, medicamentos e pessoal médico. Promessa que, passado quase um ano, ainda não se efectivou.

Do MINSA, segundo conta José de Sousa, receberam apenas 25 válvulas, insuficientes para a demanda do centro, que tem uma necessidade mensal de cerca de 400.

A administração defende que, tratando-se de uma doença que afecta maioritariamente famílias sem recursos, as cirurgias deveriam ser grátis, cenário que só poderá ser possível caso o Estado intervenha.

Famílias gastam 200 mil kwanzas por cada cirurgia

Actualmente para as cirurgias, as famílias são obrigadas a comparticipar com uma quantia de 200 mil kwanzas - mais 50 mil kwanzas em relação ao ano passado -, valor que não cobre o total do procedimento médico avaliado em quase 10 mil dólares, incluindo os custos dos equipamentos.

"Passámos o Janeiro a tentar encontrar patrocinadores, mas não conseguimos. Fomos obrigados a recomeçar com as comparticipações de 200 mil kwanzas".

Inaugurado em 2015, no Kifica, em Luanda, o centro regista, semanalmente, cerca de 15 novos casos de pacientes que, devido à sua condição, são mandados de volta para a casa ou, em situações mais graves, transferidos para o Hospital Pediátrico David Bernardino. Construído por iniciativa de privados, o CNTH sobrevive de doações de organizações estrangeiras como da Alemanha e dos Estados Unidos, que disponibilizam válvulas. E ainda de pessoas singulares, que, às vezes, financiam a cirurgia de crianças. Os técnicos do centro trabalham como voluntários. Recursos humanos e materiais hospitalares gastáveis são as principais necessidades do centro que também necessita de uma ambulância.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)