A jovem desiste de comprar carne e opta agora pelas hortícolas.

A irmã da Eva Elizandra de Carvalho, 12 anos, assistiu pela primeira vez ao abate de um animal. "O animal está ser agredido e mal tratado", lamuria a menina que pediu à irmã para se retirarem "imediatamente" do local.

Um dos que "maltrata" os animais no mercado do Km30 é jovem Arnaldo Kevia, de 23 anos, natural da província da Huila.

Apelidado como "Assassino do 30", aplica diariamente vários golpes de machado para abater os animais que são comercializados neste mercado.

O jovem "Assassino do 30" gaba-se de abater diariamente mais de 14 animais, entre bovinos, suínos e caprinos.

Eva de Carvalho pergunta outra vez ao Arnaldo Kevia se o que estava a fazer (arrastar animais pelo chão) era normal. A resposta foi veloz: "Que culpa tenho eu? Perguntem às tias que são proprietárias dos animais. A nossa missão é abater os animais e ganhar o nosso dinheiro. O resto não sei",

O mercado do KM30 é um lugar marcado pela falta de higiene e pela morte cruel de animais. Este matadouro representa uma grande ameaça para o consumidor.

"Na ânsia de lucros fáceis por parte dos proprietários dos animais abatidos em condições não apropriadas, colocam em risco a saúde das populações", responsabiliza Arminda Zua, que vende bebidas numa das barracas neste mercado.

Arnaldo Santos, funcionário público, proibiu a sua empregada de comprar carne fresca no mercado informal, dada a falta de condições de sanidade e inobservância das regras instituídas.
"É hora das autoridades competentes encontrarem formas de proibir a comercialização de carne naquelas condições, por constituírem um verdadeiro atentado à saúde humana", apelou.

O jovem de 32 anos interditou a compra de carne nos abates clandestinos porque não há inspecção veterinária oficial.

"Foi um horror o que eu vi num dos mercados no bairro Golf II. As senhoras vendem carne ao lado da lixeira e as moscas sobrevoam os produtos sob o olhar silencioso dos fiscais", lamentou, salientando que constatou que o ambiente poder ser um vector de doenças e infecções alimentares.

A reformada Inês Pedro acusa: "É um perigo grande para a saúde pública, pois verificamos graves atropelos às normas de higiene e sanidade animal".

Segundo ela, também proibiu os seus filhos de comprar carne no mercado informal. A maior parte das pessoas que se dedicam ao abate e venda de carne, quer bovina, suína ou caprina, furta-se aos serviços de inspecção que identificam, mediante exames, se o produto está ou não em condições para o consumo humano.

Onde encontrar a carne segura

Todos os fins-de-semana, Matilde Neto, proprietária de um talho no bairro Popular, compra a carne no matadouro de Kikuxi, onde o produto é mais seguro.

"Não há riscos sanitários ao comer esta carne que tem uma inspecção rigorosa", valorizou.

Matilde desistiu de comprar carne nos matadouros clandestinos, porque um dia, uma cliente apanhou uma alergia que a ia levando à morte.

"Fui obrigada a devolver o dinheiro e ainda a pagar o tratamento da minha cliente. Por isso, jurei não mais comprar carne em qualquer lugar", contou.

Dotado de tecnologia de ponta, o matadouro do Kikuxi está preparado para o abate diário de 240 caprinos, 80 bovinos e igual número de suínos.

No matadouro do Panguila, propriedade da Mamil Agropecuária e do Quilómetro 30, Ramiro, do grupo Songo Comercial, é frequentado por António Cabral, proprietário de um restaurante em Luanda Sul. Ele diz que, desde que abriu o seu restaurante, nunca comprou a carne nos matadouros clandestinos. "Temos muita responsabilidade com a saúde dos nossos clientes. Por isso, a carne deve ser comprada nos matadouros qualificados", referiu.

O matadouro do grupo Songo é tido como dos mais procurados por ser um dos o principais abastecedores dos diversos talhos e até mercados espalhados pela capital e arredores.

Estima-se que, num único dia, pode abater cerca de 20 cabeças de gado bovino, suíno e caprino.

O que dizem os veterinários

O médico veterinário, António Sampaio Bunda, do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, alerta para o perigo do consumo de carne oriunda de matadouros clandestinos.

Segundo ele, em Luanda, o abate de animais ocorre em locais improvisados, sem condições adequadas de higiene e sem a vistoria de um médico veterinário, que é o profissional habilitado a fazer a análise da sanidade de produtos de origem animal.
"O maior risco para a saúde pública é a contaminação de pessoas com doenças como a Tuberculose que podem ser contraídas pelo consumo da carne de animais infectados", acrescentou.

Para outro médico veterinário, Amadeu Serôdio Neto, os matadouros constituem pontos de vigilância epidemiológica, em que é efectuada a selecção da carne para consumo humano e recolhidas informações sobre as doenças que afectam as manadas da região.

"Os serviços veterinários não conseguem controlar as doenças que assolam o gado, quando os criadores, ao invés de irem aos matadouros, fazem o abate em locais clandestinos sem fazer qualquer exame sobre o estado de saúde do animal", frisou.

Na sua opinião, o abate clandestino de animais não cumpre com o processo tecnológico para a produção de carne, nomeadamente a sangria correcta, a inspecção registada, e higiene do local, representando, por isso, um alto risco para a saúde pública.

AADIC preocupada

A Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC) diz que tem recebido reclamações no que diz respeito à existência, em Luanda de matadouros clandestinos em grande quantidade.

"Temos muitas denúncias sobre a situação. Há um risco sanitário ao comer estes produtos, que não têm inspecção, pois o risco é grande", disse ao Novo Jornal Online o presidente da instituição Diógenes de Oliveira.

"Ao comprar um produto que foi abatido clandestinamente, pode estar a levar para casa um grave problema de saúde", acrescentou.

Carne abatida é cara em Luanda

Nos mercados de Luanda a carne abatida é cara. "Os preços são exorbitantes", contesta Ana Pedro, que só compra a carne nos talhos e não no mercado informal.

Na opinião de Ana, por ser um produto de produção nacional, o preço do produto devia estar ao alcance de qualquer consumidor.

"Os preços exorbitantes nos talhos obrigam as pessoas com pouco poder de compra a recorrerem no mercado informal", reconhece, defendendo a necessidade de se encontrarem mecanismos para aumentar a oferta de carne abatida na província, de modo a reduzir os preços.

"Um pedaço de carne de vaca com menos de um quilo custa Kz 2.000.00.

Os locais frequentados pelos munícipes para aquisição da carne abatida são, entre outros, os mercados do Prenda, Congolenses (...), Cantintom, antigo Matadouro e da Madeira.

Já uma parte de carne de porco com quase três quilogramas é comercializado a quatro mil kwanzas, enquanto a mesma quantidade de cabrito é vendido ao preço de três mil e quinhentos.

Entretanto, alguns comerciantes justificaram o preço da carne, afirmando que o gado bovino e caprino, assim como a carne de porco estão a ser comercializados no interior do país por um preço alto.

Nos poucos talhos existentes na província, um quilograma de carne de vaca está ao preço de dois mil kwanzas com osso e dois mil e quinhentos sem osso.

Nos supermercados, o preço da carne de vaca varia de três mil a seis mil Kwanzas, a de cabrito de quatro a seis, enquanto a carne de porco está ser vendida entre os quatro e cinco mil por quilo.

No bairro Mundial, comuna do Benfica, município de Belas, um boi com 150 quilogramas está a ser comercializado por aproximadamente 200 mil kwanzas.