Os médicos relatam uma "péssima realidade actual do sector", queixando-se de maus salários e horários de trabalho sobrecarregados.

"Continuamos sem ninguém que vele pelo nosso bem-estar, pela nossa satisfação. Temos um horário de trabalho muito pesado e continuamos com um salário que não se ajusta à nossa situação", disse a médica interna, Luzia de Melo.

Falando durante o 1.º Encontro dos Médicos Internos de Angola, uma promoção da Associação dos Médicos de Angola (AMA), a médica do Hospital Josina Machel de Luanda, maior unidade hospitalar pública de Angola aconselhou a associação a visitar os hospitais públicos.

"Visitas regulares, principalmente nos hospitais públicos, para avaliarem as condições de trabalho dos médicos. Eu por exemplo, compro os meus instrumentos de trabalho para poder trabalhar", explicou.

A interna de cardiologia do Hospital Josina Machel defendeu mesmo a criação de um sindicato dos médicos de Angola, "para uma reflexão profunda sobre as nossas preocupações".

Uma exigência partilhada por outros profissionais, durante este encontro: "São sempre relevantes para qualquer área laboral, porque é nos sindicatos que vemos defendidos os nossos interesses", afirmou a interna da Clínica Sagrada Esperança, Ana Soraia Martins.

A médica interna Carlota Tati, da província de Cabinda, disse mesmo estar frustrada com a profissão, pelo desinteresse das autoridades na valorização dos profissionais de saúde.

"Se hoje me perguntarem se voltaria a fazer medicina, eu diria que não, porque há uma grande disparidade em relação aos colegas do mesmo nível de formação, então as condições bases dos profissionais neste país não estão equiparadas", explicou, defendendo, também ela, necessidade de um sindicado que represente a classe.

"É urgente a melhoria de condições de vida dos médicos no país", declarou.

Este encontro serviu também para discutir o regulamento do internato complementar médico em Angola, as experiências de formação dos médicos nos hospitais públicos e clínicas privadas, a qualidade de vida e grau de satisfação dos médicos, a estratégia de municipalização dos serviços de saúde e os desafios para a melhoria da formação dos médicos especialistas.

O presidente da associação, Jeremias Agostinho, referiu que o encontro serviu ainda para a troca de experiência entre os médios formados no exterior e no interior do país, bem como especialistas internacionais e professores ligados à formação de médicos e estudantes de medicina, cujo objectivo é tornar melhor o atendimento a nível das instituições de saúde.

O responsável informou ainda que a associação pretende levar a cabo um programa de consultas médicas gratuitas a nível do país. A primeira fase vai abranger as províncias de Luanda e Huíla, no quadro da redução da mortalidade no seio da população.

O encontro contou com a participação de mais de 430 médicos especialistas formados no exterior e interior do país e profissionais na área da saúde de vários países, como Portugal, Brasil, Cuba e Espanha.

A Associação dos Médicos de Angola foi fundada em 2017 e este primeiro encontro teve como lema o "panorama do internato complementar médico em Angola".