Com tanta gente a caminho da Muxima, santuário localizado a cerca de 130 quilómetros de Luanda, para sul, ou duas horas de carro, as autoridades policiais colocaram no terreno, incluindo o santuário, acessos e perímetro, mais de mil agentes da Polícia Nacional e centenas de elementos do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros (SNPCB).

"Jovens com a Maria Caminhemos Hoje ao Encontro de Cristo" é o lema da festa da fé angolana este ano, tendo o primeiro dos dois dias de programação, no Sábado, iniciado, segundo explicou no local ao NJOnline o padre Albino Reys, reitor do Santuário, com a longa sessão de confissões e reza do terço.

Para garantir que tudo corre dentro da relativa normalidade, permitida com a presença de grandes concentrações humanas, avançou o reitor do santuário, foram criadas várias comissões coordenadas pela Igreja Católica e pelas autoridades da província de Luanda, para áreas como a liturgia, segurança, saneamento, bombeiros e saúde.

A peregrinação anual à Muxima atrai pessoas dos quatro cantos de Angola, mas também do estrangeiro, como constatou de novo este ano o NJOnline em conversa com a são-tomense Matilde da Costa, que confidenciou ter programado esta deslocação ao santuário para pedir à "Senhora" que interceda em favor da "paz no lar".

"Vou rezar de coração para a Mama Muxima me abençoar e haver paz no meu lar", disse Matilde da Costa que veio a Angola pela primeira vez.

Viajar de Luanda para a vila de Muxima, não constitui problemas para os que querem fazer parte desta peregrinação. Os autocarros públicos e privados estão funcionar com regularidade.

O Sábado foi preenchido com um vasto programa religioso e festivo, com destaque para a procissão de velas e uma vigília nocturna, como antecâmaras para o omento alto de hoje, Domingo, que é a missa dominical, assistida por dezenas de milhares de crentes.

Lendas e tradições, sincretismo e ecumenismo

Com a primeira capela erguida no local em finais do século XVI, e alvo de dezenas de alterações no edificado religioso da Muxima ao longo dos séculos, o Santuário foi declarado património de interesse em 1924, com o estatuto de Património Provincial de Angola, ostentando hoje a condição de Património Nacional.

Apesar de existirem vários santuários no país, o Santuário Mariano da Muxima é o mais importante e um dos que mais gente reúne anualmente em África e o mais concorrido na parte austral do continente.

Com uma forte génese de sincretismo religioso, onde a tradição pagã foi sendo inserida na tradição cristã europeia, a Muxima ainda hoje reflecte essa natureza multifacetada, o que, segundo alguns sociólogos e estudiosos católicos, foi essencial para o forte acolhimento que recebeu nas comunidades angolanas, independentemente da sua origem e crença.

Essa é a razão, ainda, pela qual todos os anos milhares de fiéis evangélicos e de outras congregações religiosas se juntam à peregrinação, não escondendo essa condição de não-católicos.

Há quem defenda mesmo que a Senhora da Muxima tem, na sua tradição, um profundo carácter ecuménico.

Alegados milagres feitos pela Senhora da Muxima, como, por exemplo, ocorreu no século XIX, quando, pela sua intervenção, rezam os registos, populações inteiras terão resistido a uma epidemia de doença do sono, impedindo a sua propagação, apesar de ter feito milhares de vítimas, consolidou o poder deste santuário junto das comunidades em todo o país.