A atenção no detalhe gráfico das páginas de cada edição deste semanário ficará apenas para quem recebeu o saber do mais-velho.
Partiu o decano do design gráfico do NJ.

O Novo Jornal, desde o início da sua fundação, teve Luís Bessa como uma das figuras de proa. A concepção gráfica era também um dos desafios deste semanário que, há 11 anos, se propunha a estar entre os periódicos mais lidos no país.

Hoje, este facto é indiscutível. Uma proeza para quem, incluindo o próprio Kota Bessa, começou neste projecto.

Depois de uma década ao serviço da arte gráfica pela informação, neste semanário, o nosso designer não resistiu a uma luta que travou no limiar dos seus 60 anos de idade. Da cama de um hospital, o objectivo seria o regresso a casa para, dias depois, ser recebido na redacção que resumia o seu quotidiano, as suas preocupações profissionais que, semanalmente, tinham o seu auge às quintas-feiras.

A redacção foi traída, o seu passamento físico foi o troféu recebido e a equipa fica sem palavras possíveis para consolar cada profissional que priva(va) horas e horas de trabalho com o "mais velho do conjunto".

Do senhor Bessa não podíamos ouvir apenas coisas de trabalho. O seu background consolidava muitas histórias que resumiam as reportagens dos jornalistas desta casa. Aliás, os trilhos da idade justificam as histórias que contava com propriedade e precisão, dignas de uma grande figura com muitas vivências.

De política, cultura ou economia era possível ouvir do senhor Bessa alguma coisa que acabaria por ser um valor que torna grande o conhecimento.

Muitas figuras são exaltadas quando partem, mas não foi necessário esperar que este momento acontecesse. A figura do Kota Bessa era consensual em vários aspectos, começando pelo facto de não ser um simples designer gráfico, mas sim um profissional que conhecia os quatro cantos do papel onde a fotografia, o título, o lead e o corpo do texto ganhavam forma.

O cigarro superava qualquer companheiro, talvez fosse a peça que dava alento, motivação e inspiração para a serenidade necessária nas noites de fecho. No capítulo técnico, tinha solução para algum problema e dizia: "Aproveitem aprender e a colocar em prática enquanto eu estou aqui".

A voz grave, em tom de preocupação, era mais sonante às quintas-feiras, dia em que era impossível não estar contagiado pelo fervilhar do tempo e da hora em que o jornal tem de estar pronto para a gráfica. O cansaço era reflexo da satisfação no final de cada fecho, completando a jornada informativa que, religiosamente, acontece a cada semana.

Estamos em crer que a consternação é geral, mais sentida por aqueles que permanecem neste periódico desde a edição experimental. Alguns optaram por abandonar o barco, mas o senhor Bessa era daqueles que optaram pela velha máxima: "Se me comeram a carne, também me vão comer os ossos".

A surpresa entre os amigos e colegas

Algumas das pessoas com quem começou este projecto - mas que dele já não fazem parte - não deixaram de reagir à morte do designer, como é o caso de Florbela Gonçalves. "É das primeiras pessoas com quem fiz amizade ao constituirmos a equipa que deu corpo, cor e alma à edição de lançamento do Novo Jornal. Era rabugento, principalmente nos dias de fecho da edição, ai se o cliente atrasasse o envio da imagem para inserção... o Bessa passava-se.

Mas nós já o conhecíamos e achávamos piada à sua rabugice", lembra a antiga colega que destaca outras qualidades do profissional, como a camaradagem e o companheirismo de todas as horas.

"Mesmo depois de eu ter saído do NJ, sempre que precisei do Bessa ele ajudou- me. Nunca te esquecerei, meu amigo. Vai em paz e que o Senhor te receba de braços abertos", descreve a ex-directora comercial deste semanário.

Para Graça Ferreira, outra das pessoas que viveram intensamente os cinco primeiros anos de desafio deste projecto, o convívio diário fez com que as pessoas criassem laços, se aproximassem cada vez mais, sendo o respeito o principal pilar entre todos. Destacou a admiração pelo profissionalismo daquele a quem sempre chamou de Sr. Bessa. "Por vezes as pessoas nem sempre podem estar juntas, e, como às vezes a vida nos apresenta caminhos diferentes, foi o que aconteceu após a minha saída do projecto. Quando nos reencontrámos passados sete ou oito anos, se a memória não me atraiçoa, senti que aquela empatia sempre foi o nosso denominador comum e que a nossa relação era verdadeira.

Nestes casos, costumam ser amizades que não se esgotam", concluiu. Para Quintiliano dos Santos, fotógrafo, a perda não é apenas de um profissional mas também de um amigo e conselheiro que, a qualquer altura, estava ali para fazer aquilo que lhe competia como mais-velho ou pessoa mais vivida.

Quintiliano olha para a frente e tem garantida a dificuldade em trabalhar com a ausência de uma figura como a deste experiente designer.

Entre as pessoas que mais partilharam o espaço de trabalho com o «man Bessa», como também era chamado pela equipa do Novo Jornal, está Luciano Bento, outro designer, que, trabalhando na mesma área, talvez seja a pessoa que ao lado de André Suamino mais bebeu da transmissão de conhecimentos que aquele decano proporcionava. Para Luciano, fica assim registada a reforma que Luís Bessa muito esperava para o seu descanso, coisa que viria a encontrar inesperadamente com a morte que deixa todos os amigos, colegas e familiares com perguntas ainda por responder.