Na praça onde decorria o famoso mercado das peças, no Golf 1, município do Kilamba Kiaxi, dezenas de vendedores, entre angolanos e estrangeiros, na maioria provenientes da RDC e do Mali, estão paralisados desde as primeiras horas de ontem, porque temem ser os principais alvos dos efectivos da Policia Nacional e dos efectivos do Serviços de Investigação Criminal (SIC), que se encontram à paisana naquela zona para manter a ordem e a tranquilidade.

As razões, segundo apurou o NJOnline, têm a ver com a proibição da venda de peças de automóveis na rua ou mercados informais, decretada pelo Governo, precisamente para travar a onda de furtos a viaturas.

"O exercício de venda de peças de veículos automóveis e motorizadas fora dos estabelecimentos autorizados ficou ameaçado desde que o Governo decretou a proibição dos mesmos. Nós não temos onde recorrer para sobreviver, por isso, mesmo com a proibição, continuamos a vender aqui, porque temos famílias para sustentar e não podemos recorrer aos caminhos do crime" explicou ao NJOnline João Matumona, de 53 anos, que vende diversos acessórios de viaturas naquela praça.

Questionado sobre a proveniência das peças comercializadas naquele mercado, João respondeu que a maioria vem de viaturas acidentadas.

"Antes recebíamos contentores de peças que vinham do exterior, mas, devido à escassez de divisas, ficámos parados no tempo. Hoje, a maioria das peças comercializadas nesta praça é de carros acidentados", garantiu.

Já Simba Mangumbala, oriundo da RDC, radicado em Angola há mais de 15 anos, disse que vive com a esposa e os filhos e depende do trabalho de comercialização de peças de veículos automóveis para o sustento da sua família.

"Espero que o Governo angolano saiba como vai fazer com o seu povo... Neste país existe muito sofrimento, e, se nos vão tirar daqui... O executivo de João Lourenço tem de ver a nossa situação, pois se isso não acontecer, vamos todos padecer e morrer", diz.

"Sei que somos acusados de gatunos", conta Luís Salvador, referindo-se à má-fama que o mercado tem, e não sem alguma razão, pois só em Julho, durante a "Operação Corvo", foram detidos, pela Polícia Nacional, cerca de 71 contentores contendo cabos eléctricos e material ferroso, avaliado em mais de 50 milhões de kwanzas.

"Não vou mentir. Às vezes aparecem aqui jovens com material de carros roubados, mas nenhum vendedor deste mercado é gatuno", garante.

Aos 47 anos, e com 17 anos a vender pneus, portas e vidros de carros naquela praça, confessa receio do futuro, face ao encerramento do mercado devido à "Operação Resgate".

"Não sei o que os meus filhos vão comer. Vivo numa casa de renda. Se o Governo decidir definitivamente acabar com este mercado, vai meter muitos chefes de família no desemprego e pode influenciar no aumento da criminalidade", refere.

A"Operação Resgate" teve início ontem, 06, com o objectivo, segundo o comandante-geral da Polícia NacionalPaulo Almeida de "repor a ordem e a autoridade".

Dizendo tratar-se de uma operação de grande amplitude", Paulo de Almeida, explicou que o nome da iniciativa se devia à necessidade de resgatar "a autoridade do Estado, da ética, da ordem, da disciplina".

Também o ministro do Interior, durante uma conferência de imprensa para a apresentação formal da operação, declarou, no passado dia 30, que a que a Polícia Nacional (PN) teria ordens para varrer o país, aplicando "mão pesada", no sentido de "acabar com as irregularidades existentes".

A propósito da operação, que ontem criou um alvoroço na capital, logo às primeiras horas da manhã, o comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, garantia, numa conferência de imprensa, que a ideia não é colocar o País em "estado de sítio", afirmando que não está em curso "uma guerra contra os pobres".

"É bom que se tenha já em mente que o País não vai entrar em estado de sítio, não vamos ver homens fardados em todos os cantos nem viaturas com homens armados. Vamos ter uma operação pedagógica, em que daremos instruções e orientações, permitindo que muitos cidadãos possam recorrer às autoridades competentes para legalizar a sua actividade", declarou o comissário-geral.