Face à incapacidade revelada pelas unidades de Saúde locais, para dar resposta ao surto de malária verificado desde o início do ano no Huambo, a Médicos Sem Fronteiras (MSF) deslocou para a província 34 enfermeiros, 16 médicos e 18 higienistas.

A presença da organização no Hospital Provincial do Huambo, e em apoio a nove hospitais municipais, permitiu tratar, desde Janeiro, mais de 3.000 crianças diagnosticadas com malária grave.

"Até recentemente, tínhamos 400 crianças hospitalizadas por malária todas as semanas, o que também pode ser explicado por um efeito de chamariz que faz com que mais famílias tragam as crianças directamente ao Hospital Provincial", explicou Isabel Grovas, coordenadora da equipa médica de MSF no Huambo, em declarações à agência Lusa.

Segundo a responsável, em Janeiro 80% das crianças internadas naquela unidade apresentavam um quadro de malária grave, percentagem que desceu para 50%.

Para além de relacionar o surto verificado com a época das chuvas, a MSF considera que a carência de medicamentos "precipitou a chegada de crianças em estado muito grave" ao hospital e lembra que o próprio "acesso às estruturas de saúde é difícil".

"A criança adoece e a família espera alguns dias, aguardando que a criança melhore. É quando a situação se torna grave que chegam aos centros de saúde. Frequentemente a morte no hospital ocorria nas duas horas após a admissão, numa fase em que já é demasiado tarde para poder fazer alguma coisa", descreve Isabel Grovas, acrescentando que a MSF "não tem capacidade para actuar numa província inteira".

Apesar das limitações, a intervenção da organização permitiu mais do que duplicar a capacidade de internamento do Hospital Provincial: a MSF contribuiu para a reabilitação de uma área da unidade de Saúde que não estava a ser utilizada, acção que permitiu expandir de 65 para 150 o número de camas disponíveis para acomodar crianças com malária.

"Em função da evolução da epidemia nas próximas semanas, a organização poderá deixar a província em finais de Abril", adianta a Médicos Sem Fronteiras.