Em declarações à agência Lusa, à margem da assinatura de um acordo de financiamento entre o Reino Unido e Angola para o sector da Saúde, João Baptista Borges reconheceu que o país "ainda está longe" da universalização do acesso à energia eléctrica.

"Actualmente, a taxa de electrificação de Angola é de 42%. Estamos ainda longe de atingir a universalização do acesso, que é isso que pretendemos", afirmou, salientando que, com a entrada em funcionamento de vários empreendimentos hidroeléctricos no país, já a partir do início de 2019, o panorama vai começar a desanuviar-se.

A presença de Baptista Borges na cerimónia de assinatura de um acordo de financiamento para o sector da saúde, assinado esta sexta-feira, 9, pelo ministro das Finanças, Archer Mangueira, e pela enviada especial da primeira-ministra britânica para Angola e Zâmbia, baronesa Lindsay Northover, justifica-se por o Reino Unido estar também a financiar projectos de extensão da distribuição de energia ao país.

Em causa estão os projectos das subestações eléctricas de Viana e da Gabela, cuja construção é financiada pelo Reino Unido e que são os primeiros a ser implementados, permitindo ajudar a distribuição energia eléctrica às populações de Luanda e do Kwanza-Sul a partir da barragem hidroeléctrica de Laúca, na fronteira entre as províncias do Kwanza-Norte e Malanje.

As subestações de Viana e da Gabela (na província do Kwanza-Sul) vão permitir que a energia vinda de Laúca possa chegar a Luanda, Huambo e Bié, esclareceu o governante angolano.

"[O projecto] vai ajudar à distribuição na área de Viana, que é uma das áreas de Angola com maior crescimento habitacional, para que mais consumidores possam ter acesso à energia, e a da Gabela, que vai permitir também que o sistema eléctrico se desenvolva para a região centro e sul do país", sublinhou.

"A Gabela [cujos trabalhos de ligação à rede eléctrica vão arrancar em breve e que terminarão em 2020] é um nó importante e essa subestação joga um papel de relevante importância nesta estratégia de expansão do sistema eléctrico. O investimento vai complementar o projecto já em curso, que envolveu a construção das linhas para Luanda e para o Huambo", acrescentou.

Aposta na rede de distribuição

João Baptista Borges lembrou que a situação energética no país difere de região para região, pelo que a aposta é na rede de distribuição.

"Temos o país dividido em regiões e só podemos falar em défice nas regiões. Na região norte temos actualmente um 'superavit' de energia, com a entrada em funcionamento do empreendimento hidroeléctrico de Laúca [inaugurado a 04 de Agosto de 2017], havendo desafios na distribuição", referiu.

"É para aí que se viram agora os investimentos, nomeadamente a construção das linhas de alta tensão, que estão a ser feitas para Luanda, e também para o Huambo e Benguela, bem como a expansão da rede de distribuição para novas áreas habitacionais, que é o que se está a fazer, por exemplo, para Luanda", explicou.

Na região centro, que envolve sobretudo as províncias do Huambo e Bié, o défice ronda os 40%, indicou o governante, face à falta de uma rede de distribuição e à limitação existente na produção térmica, pois a região vive dela.

"Mas há agora a perspectiva de, com a ligação de Laúca, suprirmos esse défice, já no início do próximo ano", sublinhou, pois os trabalhos deverão estar concluídos em Janeiro de 2019, permitindo o acesso à energia por parte da população das duas províncias.

Na região sul, a grande preocupação está nas províncias do Cunene e da Huíla, em que o défice está em torno dos 50%.

"É provavelmente aquela que terá um défice maior se tivermos em conta não só a actual demanda, mas também as perspectivas de crescimento da indústria e do consumo habitacional. Precisaremos de mais 50%, ou seja, o dobro daquela capacidade que existe hoje", afirmou.

"A estratégia de desenvolvimento do sector para suprir essas necessidades vai sobretudo atender ao crescimento da rede eléctrica, com a construção das linhas, com a interligação dos três sistemas e a possibilidade de transportar energia dos grandes centros de produção - Laúca e Cambamba [hidroeléctrica no Kwanza-Norte] - vai resolver esse problema a médio e longo prazo", explicou João Baptista Borges.