Estes valores, agregados à facturação resultante dos cursos profissionais ministrados nas áreas de teatro, cinema e TV, têm permitido ao conjunto arcar com os salários dos mais de 30 profissionais que compõem o grupo. Por isso, é com "profunda preocupação" que David Caracol, director-adjunto da companhia, analisa o impacto da paralisação resultante da Covid-19.

"E nós, os da área da Cultura, porque nunca tivemos apoio de ninguém e andámos isolados, temos sofrido duas vezes mais do que os outros ofícios", revela Caracol, que entende que a situação do Horizonte Njinga Mbande é "ainda mais complicada" do que a dos outros grupos teatrais, visto que a companhia esperava, nesta altura, estar a «recuperar-se» do investimento que resultou na reinauguração, em meados de Fevereiro, de um auditório com capacidade para 200 espectadores.

"Quando tu começas a prever um equilíbrio financeiro e, de repente, apanhas um choque destes, ficas automaticamente desnorteado", comenta David Caracol, que reforça que o momento é "complicado" e critica o Ministério da Cultura - que agora congrega o Turismo e o Ambiente - por alegadamente "não ter estratégias para dar suporte aos artistas" diante das dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus.

Sublinhando que a companhia é uma instituição contribuinte, David Caracol entende que o Estado, à semelhança do que tem acontecido em sectores como a Indústria ou o Comércio, devia propiciar "manobras de superação" para o sector artístico-cultural.

"O Estado podia abrir uma cláusula que permitisse aos artistas buscar valores em formas de empréstimo", sugere, lamentando que, nas contas do país, a Cultura seja sempre o "elo mais fraco". "Esperamos que o Estado ouça a nossa voz e olhe para esta situação de forma séria. Esperamos que não nos minimizem ", atira.

Maka generalizada

O teatro, entretanto, não é a única disciplina artística cujos fazedores enfrentam dificuldades devido ao confinamento resultante da Covid-19. Por exemplo, o músico Dom Caetano, que até admite ter agora mais tempo para compor novas canções e dedicar-se à família, entende que os artistas deviam receber "algum subsídio" do Estado para poderem "sobreviver em casa".

O referido subsídio, explica Dom Caetano, seria uma espécie de remuneração enquadrada no "processo de mitigação que o Governo deve levar a cabo para aliviar a fome dos artistas". "Tem de haver uma estratégia de mobilização ao nível da superestrutura", aconselha, sugerindo que a intervenção não se fique apenas pela música, mas que abranja todas as áreas artísticas.

De 62 anos, Dom Caetano não consegue avançar quanto terá perdido nestas cerca de quatro semanas de paralisação, mas revela que, entre Março e Abril, perdeu pelo menos quatro contratos.

Por isso, o músico dá-se por feliz por não viver apenas da música, já que é funcionário da RNA, ocupação que lhe tem permitido "algum equilíbrio", embora admita estar "apertado".

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