Sinal esse que foi enviado por telefone pelo ministro dos Negócios Estrageiros da China, Wang Yi, numa conversa que manteve com o Mike Pompeo, o Secretário de Estado norte-americano, que é quem tem a tutela da diplomacia norte-americana, o que, na interpretação dos acontecimentos permite perceber que Pequim quer manter esse assunto ao nível político e não meramente comercial.

Wang Yi pediu directamente ao seu homólogo norte-americano para não deixar os EUA irem Longe demais" e não tomaram mais nenhuma medida que vise prejudicar os interesses chineses, porque como as coisas estão já estão suficientemente más.

Nessa conversa, Pompeo ouviu Yi dizer-lhe que Pequim está absolutamente contra o decreto de Donald Trump que proíbe o uso de equipamentos tecnológicos da Huawei ao colocar esta empresa na lista das que se comportam de forma a prejudicar os interesses e a segurança nacional dos EUA.

O homem que tutela a diplomacia chinesa disse ainda, segundo noticiaram as agências, que Washingtom tem de alterar o seu comportamento para evitar um escalada de danos em ambos os lados já nos próximos dias, ainda em Maio, porque a cooperação é a melhor e mais vantajosa plataforma para as duas economias.

Este episódio da Huawei caiu que nem uma bomba no já explosivo contexto de guerra comercial que EUA e China travam há quase dois anos.

"A China sempre esteve disposta a resolver disputas económicas e comerciais por meio de negociações e consultas que, no entanto, devem ser conduzidas com base na igualdade", disse Wang, acrescentando que a China, como em qualquer outra negociação, deve "salvaguardar os seus interesses legítimos, responder aos apelos do seu povo e defender as regras básicas das relações internacionais".

Como foi?

Donald Trump, deu um passo arriscado na forte tensão comercial entre Washington e Pequim ao colocar o gigante chinês das telecomunicações, a Huawei, através de uma Ordem Executiva, na lista negra das empresas consideradas "inimigas" da economia norte-americana, abrindo uma quase certa guerra tecnológica entre as duas maiores economias do mundo que vai ter consequências planetárias às quais o continente africano está especialmente vulnerável.

Com este gesto, a Administração norte-americana, através do Departamento do Comércio, impede a Huawei de vender os seus produtos no país, o que será um desastre para a sustentabilidade deste gigante chinês, mas aponta ainda para aquilo que pode ser, efectivamente, um golpe fatal na própria sobrevivência da mais conhecida empresa chinesa em todo o mundo, ao proibir a exportação de semicondutores para as suas unidades de produção.

A imprensa económica de hoje, como o Financial Times, avança que a ordem de Trump visa especificamente as compras da Huawei à Qualcomm, uma multinacional americana que tem um largo domínio, através de uma política agressiva de patenteamento dos produtos, do fornecimento mundial de semicondutores, material essencial para o fabrico dos produtos da Huawei.

Na génese deste passo, dado na forma de "emergência nacional", está a criação de legislação que obriga as empresas a obter uma licença especial do Departamento de Comércio para exportar material para as empresas tecnológicas, visando claramente a multinacional chinesa que, nos últimos meses, tem deixado os cabelo de Trump em pé por causa da sua tecnologia 5G, acusada de conter parâmetros que permitem à Huawei agir como um "espião" ao serviço de Pequim.

Isso mesmo está plasmado na Ordem Executiva de Trump, que sublinha o facto de ter como alvo as empresas que apresentem "risco para a segurança nacional" dos EUA, o que significa de forma clara que, depois de uma guerra comercial de elevada tensão que Pequim e Washingtom travam há pelo menos dois anos, como o NJOnline tem vindo a noticiar, as duas maiores economia planetárias têm agora em curso uma guerra tecnológica que pode elevar os ânimos para um patamar onde o risco de resvalar para a "pólvora" é mais real e densamente possível, até porque não faltam locais de forte fricção militar, seja por causa de Taiwan, seja, entre outros, por causa da Coreia do Norte, que tem na China o seu grande aliado, ou ainda na luta pela influência no continente africano, cada vez mais visível.

Uma das questões mais quentes deste avanço no imbróglio sino-americano, que está a ser enfatizado pelos diversos analistas, é o potencial de danos que esta medida pode causar em todo o mundo, desde o continente africano - onde uma grande parte dos países dependem da tecnologia da empresa chinesa para suportar as suas estruturas de telecomunicações, sendo Angola um deles e onde a Huawei tem investido forte, somando mais de 60 milhões USD nos últimos anos - ao asiático, passando pelas Américas ou mesmo a Europa, porque grande parte das redes de telecomunicações digitais estão hoje no universo dos clientes e dependem de equipamento da empresa chinesa e esta "punição" de Washington vai levar a que os efeitos ali sejam notados muito em breve por quebra no fornecimento à Huawei.

A resposta da Huawei

Tal como o Governo chinês fez no caso da Guerra comercial, na escalada de tarifas aplicadas aos produtos entre uma e outra economias, sublinhado sempre a disponibilidade para negociar comos EUA, apostando no diálogo em vez da guerra aberta, também a Huawei veio agora colocar água fria na fervura, anunciado a sua disponibilidade para se comprometer com o Governo americano no sentido de garantir a segurança dos seus produtos.

Mas, como é timbre da filosofia chinesa nestas matérias, a empresa deixou uma ténue advertência, afirmando que as medidas agora tomadas por Trump "não vão fazer dos EUA um país mais seguro ou mais forte".

"Pelo contrário, isto vai apenas limitar a economia norte-americana a alternativas mais caras e de muito inferior qualidade, colocando o país muito atrás na corrida mundial à tecnologia 5G, afectando os interesses das empresas americanas e dos seus consumidores", disse ainda a Huawei num comunicado.

Nesse mesmo documento, a empresa chinesa diz ainda que estas medidas "infringem os direitos legais da Huawei e levantam sérias questões legais" que vão ser analisadas no âmbito dos departamentos jurídicos.

Para já, no imediato, o impacto traduzido em dólares é de cera de 15 a 20 mil milhões de dólares, porque a dimensão da Huawei que depende dos semicondutores importados dos EUA é de 20 a 30 por cento da sua produção global, recordam hoje as agências, lembrando que esses 20 a 30% representam 3,8% do total mundial.