"A dívida pública deverá aumentar de 107% do PIB em 2019 para 134% em 2020; as projecções para 2020 reflectem principalmente a depreciação da taxa de câmbio e a queda dos preços do petróleo no seguimento do choque desencadeado pela pandemia de covid-19", lê-se no relatório que detalha a análise à quarta revisão do programa de ajustamento financeiro.

Os peritos da instituição de Bretton Woods afirmam que a "a dívida pública deverá cair este ano para 120% do PIB, reflectindo o início da recuperação do crescimento e uma visão orçamental restritiva", em comparação com os 107,5% previstos em Setembro.

O rácio da dívida pública face ao PIB "deverá continuar elevado durante o horizonte das projecções e vai demorar ligeiramente mais tempo do que o projectado anteriormente a convergir para a âncora de médio prazo" de 60%, que agora deverá ser alcançado apenas em 2028.

"A recuperação sustentada do crescimento, alicerçada em reformas estruturais que desbloqueiam os principais entraves ao crescimento em Angola, como o fortalecimento do clima empresarial e a governação, vão complementar a consolidação orçamental que está no nosso cenário base e reduzir a dívida substancialmente em 2025", acrescenta o relatório do Fundo.

De acordo com o FMI, "apesar de estar a melhorar, a perspectiva de evolução económica continua altamente desafiante, devido à lenta e incerta recuperação dos choques relacionados com a covid-19", pois "sendo uma economia altamente dependente do petróleo, sofreu de fraquezas nesse sector, como a queda da produção e uma recuperação apenas parcial dos preços internacionais recentemente".

Estes choques "levaram a um quinto ano seguido de recessão e dificuldades", marcadas pela subida do rácio da dívida face ao PIB para "níveis muito elevados", motivados pela depreciação recente da taxa de câmbio.

"Ainda assim, o forte desempenho orçamental e a gestão activa da dívida estão a preparar o terreno para uma recuperação económica gradual e uma redução das vulnerabilidades relacionadas com a dívida", afirmam os peritos, elogiando as medidas implementadas pelo Governo angolano.

O desempenho do programa, segundo os técnicos, "tem sido adequado desde a terceira revisão, todas as indicativas até Setembro foram cumpridas, com excepção de duas, os activos do banco central sobre o Governo central, e o volume de dívida pública".

Embora Angola tenha falhado algumas das metas e dos indicadores acordados, designadamente no que diz respeito ao sector financeiro e à prestação do banco central, apresentou argumentos considerados válidos pela equipa técnica do FMI.

Apesar de o Fundo considerar que há "riscos significativos", principalmente no que diz respeito ao nível de dívida pública, preços do petróleo e ao frágil ambiente económico para a execução do plano que termina no final do ano, elogia Angola, dizendo que "para lidar com estes riscos, as autoridades mantiveram o programa nos eixos, nomeadamente apresentando um Orçamento para 2021 prudente, implementando uma estratégia eficaz de gestão da dívida, permitindo que a taxa de câmbio se ajustasse aos choques, perseguindo uma política monetária sã e continuando os progressos em reformas estruturas importantes".