Esta Agência, o organismo mais abrangente na vigilância das flutuações mundiais do petróleo, estima, no entanto, que a seguir ao ano trágico de 2020, seguir-se-á o ano milagroso de 2021, para o qual a AIE aponta uma "recuperação histórica", mesmo a mais vincada de sempre desde que existe indústria petrolífera.

Neste documento, onde periodicamente a AIE analisa a evolução dos mercados dos hidrocarbonetos, é sublinhado que 2020 vai observar uma queda diária em média de 8 milhões de barris por dia.

Mas, para 2021, está alinhado neste guião da AIE uma subida em média diária de 5,7 milhões de barris por dia.

Por detrás deste sobe e desce está a crise económica global gerada no rasto da pandemia da Covid-19 provocada pelo novo coronavírus que foi detectado pela primeira vez, em Dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan, e que, em escassas semanas alastrou a praticamente todos os países do mundo, estando hoje especialmente activa em países como os EUA, o Brasil e outros Americanos, embora a China tenha voltado a estar em foco estas semana depois de descoberto um surto potencialmente desastroso em Pequim. Como o Novo Jornal noticiou também.

A AIE admite que, estando 2020 a atravessar a linha do semestre, são já, no entanto, visíveis os efeitos das medidas tomadas, quer pela OPEP+, o organismo que agrega a OPEP e um grupo de não-alinhados (10) liderados pela Rússia, especialmente o corte de 9,7 milhões de barris por dia (mbpd) entre 01 de Maio e 31 de Julho, e as iniciativas do G20, o grupo das maiores 20 economias mundiais, onde ficou recentemente definido um conjunto alargado de medidas económicas, desde logo o perdão das dívidas dos países mais desfavorecidos, moratórias para os em desenvolvimento e injecções de capital nas economias mais desenvolvidas para contrariar os efeitos pandémicos.

Para os analistas da Agência Internacional de Energia, como fica claramente sublinhado neste documento, os últimos meses de 2020 deverão já mostrar sinais de estabilização, embora isso vá depender da evolução da pandemia da Covid-19, até porque, nestes meados de Junho as notícias que chegam das mais diversas latitudes estão longe de ser totalmente apaziguadoras.

Isto, porque, se por um lado, as grandes economias começaram já a aligeirar as medidas restritivas aplicadas desde Fevereiro para conter a expansão da Covid-19, activando todos os mecanismos de recuperação económica depois de um "Inverno de terror", especialmente nos EUA, na China e na Europa, os três mais poderosos blocos económicos globais, por outro lado, nestes mesmos espaços geoeconómicos, as notícias sobre a "morte" da pandemia estão a mostrar-se ligeiramente exageradas.

Porém, e enquanto estes dados estão a ser "mastigados" pelos mercados, as duas praças de referências globalmente mais importantes na perspectiva angolana, o Brent, em Londres, e o WTI, em Nova Iorque, estão hoje a mostrar solidez mas sem grande mobilidade.

Enquanto o Brent, que, como se sabe, é onde é estimado o valor médio das exportações angolanas, estava hoje, cerca das 10:00, a subir 0,44 %, para os 40,98 USD por barril, consolidando acima da fasquia simbólica dos 40 dólares, relativamente às vendas de Agosto, enquanto do outro lado do Atlântico, o WTI engordava ligeiramente, 0,08 %, para 38,09 USD, sendo estes valores referentes às cargas para Julho.

Estas subidas ligeiras são um pequeno alívio da pressão em baixa dos últimos dias, embora escassas num contexto mais dilatado, porquanto é sabido que o barril perdeu este não mais de 40 por cento do seu valor e esteve mesmo a esvair-se em 70% em meados de Abril, com os gráficos a mostrar que dos 100 mbpd consumidos em Novembro de 2019, apenas 70 mbpd estavam colocados do lado da procura.

A OPEP+ esbateu este pesadelo em cerca de 10 mbpd mas os restantes 20 terão de ser recuperados a partir da normalização das economias planetárias, o que está a suceder, embora mais ligeiramente que o esperado e com armadilhas à espreita, como é o caso dos constantes novos casos de infecção pelo novo coronavírus um pouco por todo o lado, fazendo temer uma segunda vaga de contágios e de confinamentos.

A confirmar estas contas simples, a AIE vem dizer que dos 30 mbpd perdidos para a pandemia, contando com os 9,7 mbpd retirados à produção pela OPEP+, o consumo médio dos últimos três meses está 17,8 mbpd abaixo dos números pré-pandémicos, período análogo em 2019, sendo ainda valores sem precedentes históricos, mesmo que a Agência sublinhe que estão abaixo das suas próprias previsões.

Para os próximos meses, o que se orna cada mais evidente, sendo esse o tom concordante da generalidades do que dizem os analistas, vai ser essencial ter em conta a evolução da pandemia e, dentro deste item, se vai ou não surgir uma vacina eficaz ou um tratamento capaz de tratar o vírus, ao mesmo tempo que um olho tem de estar nos gigantes da OPEP+, Rússia e Arábia Saudita, porque são famosas as suas "birras" ou ainda se os incentivos económicos, nos EUA (Reserva Federal), Europa (BCE), China e Japão serão suficientes e se os mercados se libertam dos receios mostrados até então, nomeadamente nos bolsistas, ou ainda se as múltiplas guerras e guerrinhas comerciais Trump-China vão terminar ou ser realimentadas com o aproximar das eleições Presidenciais norte-americanas.

Mas, regressando ao que impacta directamente os mercados petrolíferos, os analistas apontam a atenção para os sectores da aviação e dos transportes marítimos, cada um deles responsável por cerca de 10% do consumo da matéria-prima anualmente, sendo que ambos estão hoje, e ainda, reduzidos a uma parte quase insignificante da sua actividade por causa da pandemia, sendo que o sector do transporte aéreo de passageiros vive actualmente uma verdadeira crise existencial que pode mudar radicalmente o panorama para o futuro.