Por detrás desta recuperação, aparentemente sólida, apesar de os analistas temerem uma correcção em baixa nas próximas semanas, estão, na primeira linha, os cortes à produção em curso especialmente no âmbito da OPEP+, a organização que agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de independentes liderado pela Rússia.

Mas não se pode ainda ignorar a importância dos estímulos já definidos pela Administração de Joe Biden à economia norte-americana, o que deve conduzir a um acentuado "revigoramento" daquela que é a maior economia mundial e o maior consumidor da matéria-prima, sendo ainda um dos maiores produtores do planeta.

Com a fasquia dos 60 USD a ficar para trás, fica ainda no passado aquela que é a mais importante fasquia "psicológica" nos mercados petrolíferos, visto que é no patamar dos 60/70 USD por barril que os membros da OPEP+, na sua maior parte, tinham os olhos fixados sempre que tomavam decisões no sentido de impulsionar o preço do barril.

Recorde-se que os actuais 60.14 USD por barril, às 10:10 de Luanda, mais 1.35% que na sessão de sexta-feira na hora do fecho, ou ainda os 57.55 no WTI de Nova Iorque, contrastam de forma evidente com os menos de 20 a que chegou em meados de Abril de 2020, no auge do impacto da pandemia da Covid-19, tendo, então, a partir daí iniciado uma recuperação lenta mas sólida, com base, essencialmente, nos cortes na produção do "cartel" OPEP+.

É ainda de lembrar que este valor está substancialmente acima do valor de referência com que o Executivo elaborou o OGE 2021, o que representa uma folga de monta nas contas nacionais, sendo que a economia angolana, ainda uma das mais dependentes do crude em todo o mundo, foi também das mais afectadas pela pandemia da Covid-19.

E é também de sublinhar que Angola está a atravessar uma fase complexa na sua infra-estrutura produtiva devido ao envelhecimento dos seus blocos offshore, ao desinvestimento das "majors" a partir de 2014, altura em que o barril iniciou uma forte perda, caindo de mais de 120 USD para menos de 30 no início de 2016, estado actualmente, também devido à sua quota no âmbito dos cortes da OPEP+, abaixo dos 1.3 milhões de barris por dia (mbpd).

Todavia, há um risco no horizonte, onde todos os analistas parecem estar agora fixados: uma possível confrontação dos interesses imediatos dos dois gigantes do "cartel", a Rússia e a Arábia Saudita, podendo perturbar o actual consenso e os resultados que permitiu no confronto com os efeitos pandémicos.

E nem seria nada de novo, porque foi uma guerra de preços que estalou entre os dois gigantes que levou ao desastre de Abril de 2020, quando os sauditas abriram as hostilidades ao aumentar de forma pesada a produção, baixando os preços, de forma a punir os russos, mais reticentes em alinhar numa política de supressão da produção de forma a equilibrar o efeito da pandemia no consumo mundial.

Foi apenas depois de Moscovo e Riade assinarem as tréguas que o petróleo voltou a equilibrar para depois iniciar o caminho da recuperação, permitindo a confiança suficiente no gigante do Médio Oriente, a ponto deste ter, já este ano, unilateralmente, e à margem dos cortes oficiais da OPEP+, acrescentado mais 1 mbpd, com efeito imediato no aumento do valor do barril.

Para Angola...

Este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.

A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.

Para já, com o barril acima dos 60 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 20 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.