Com a retoma do negócio global de crude, depois de uma curta paragem devido às festividades, também o WTI, de Nova Iorque, que mede o pulsar da economia norte-americana, deu o pontapé de saída para 2022 com uma valorização apreciável, o que completa este momento auspicioso para quem tem no crude um pilar essencial para a retoma económica neste novo ano que deve, se as previsões mais optimistas se confirmarem, ser aquele que vai marcar o fim da crise planetária gerada pelo evento pandémico do Sars CoV-2.

Este início de ano com o barril a borbulhar, dando continuidade ao borbulhar das garrafas de champagne, é o aperitivo ideal para a reunião da OPEP+ que decorre esta semana, na terça-feira, 04,, a primeira de 2022 e aquela onde se espera que os "donos" do crude mundial redefinam a estratégia para, pelo menos, os próximos seis meses e determinem se Fevereiro vai ou não ser mês de um aumento na produção igual ou acima dos 400 mil barris por dia como tem vindo a acontecer mensalmente desde Julho.

Em cima da mesa, e em destaque, está a questão do aumento da produção, que as potências económicas mundiais exigem mas que o "cartel", onde Angola está representada, liderado por sauditas e russos, mostra estar reticente devido à persistência das ameaças que ainda pendem sobre as mais robustas economias, desde logo a pandemia que ainda não está derrotada totalmente e a inflação, que está muito acima do desejável, lá onde tradicionalmente se consome mais energia, Europa, EUA, Japão... arrefecendo a procura.

Com isto, pouco depois das 09:00, hora de Luanda, o Brent estava a valer 78,37 USD, contratos para Fevereiro, subindo 0,73 % desde a derradeira sessão de 2021, enquanto o WTI, em Nova Iorque, referente aos contratos para Janeiro, valia, à mesma hora, 75,80 USD, mais 0,77%.

Mas os analistas não têm muitas dúvidas de que os próximos meses vão depender fortemente do que a OPEP+ decidir esta terça-feira porque a organização ad-hoc que desde 2017 junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e um grupo de uma dezena de desalinhados com a Rússia à frente, com o objectivo estratégico de reequilibrar os preços do petróleo devido às sucessivas crises que têm assolado o sector, ainda detém a última palavra sobre mais de 40% do crude produzido em todo o mundo.

O que interessa neste auspicioso, apesar de tudo, início de 2022, é saber se a Rússia e a Arábia Saudita - juntos produzem, normalmente, mais de 20 milhões de barris diários, de um total de entre 95 e 100 milhões, que é o consumo normal mundia -, à frente deste poderoso "cartel", vão alterar muito ou pouco o programa de cortes que vigorou desde Junho a 31 de Dezembro de 2021.

Vão ou não ser acrescentados barris aos 400 mil que diariamente, e com revisões mensais, têm estado a ser acrescentados à produção global do grupo? E se sim, quanto e com que periodicidade?

Estas respostas vão depender de duas coisas, essencialmente: ou o "cartel" cede à pressão das grandes economias mundiais - EUA à frente - e faz um aumento substancial da produção ou mantém o rigor de introduzir alterações apenas e quando os factores que as determinam assim o justificar, desde logo a evolução da pandemia ou a evolução da economia global, que atravessa uma rara crise de produção com epicentro na China.

Na terça-feira saber-se-á o que vão os "donos" do petróleo planetário decidir e o Novo Jornal estará a noticiar, de perto, esta importante reunião da OPEP+.

O que se depreende, todavia, das análises que os sites especializados e as agências de notícias com foco económico estão a divulgar é que a OPEP+, provavelmente, manterá a linha de acção mostrada nos últimos seis meses, mantendo um aumento progressivo, mensal, de 400 mil barris por dia a cada mês, pelo menos até Março.

Isto, num cenário de tremendos ganhos para o sector, que em 2021 aumentou 50 por cento, depois de perdas gigantescas devido à pandemia da Covid-19, que, porém, foi igualmente a razão para a crescente valorização à medida que o Sars CoV-2 e as suas múltiplas estirpes foi sendo derrotado pelas campanhas de vacinação, pelo menos nos países mais desenvolvidos, porque entre os mais pobres, como os africanos, a realidade é muito diferente, como é disso exemplo o caso de Angola, com uma baixíssima taxa de imunização e uma fraca adesão da população à vacinação, para a qual estão a contribuir algumas igrejas evangélicas, qwur aconselham à não toma da vacina, e o misticismo milenar impregnado na população de um modo geral.

Face a este cenário de difícil previsão, com o evento da variante Ómicron do Sars CoV-2, que baralhou as contas a economistas e virologistas, devido à sua fácil propagação, apesar de muito menos severa na doença que gera, o optimismo, na perspectiva dos países exportadores, para 2022 pode sair furado, apesar de alguns dos organismos mundiais com acesso a mais dados sobre o sector, como a Agência Internacional de Energia (AIE), a OPEP ou mesmo o Instituto do Petróleo dos EUA, entre outros, manterem as perspectivas positivas, tal como algumas das mais importantes casas financeiras, como a Goldman Sachs, que ainda vê o barril nos 100 USD até ao fim do ano, ou ainda o Governo russo, que admite mesmo chegar aos 200.

No entanto, como relembra hoje a Reuters, um painel de 35 analistas alterou a sua previsão para 2022 face a Novembro, baixando o valor médio diário do barril de Brent em 2022 de 75,33 USD para 53,57 USD.

Recorde-se que estas variações são essenciais para a economia angolana, que ainda tem no crude 95% do total das suas exportações, perto de 40% do seu PIB e mais de 60% do total dos gastos do Estado.

Apesar de o OGE 22 estar elaborado com um valor de segurança nos 59 USD para o valor médio do barril, cada variação representa uma folga ou um aperto nas contas do Executivo de João Lourenço, porque tem neste sector um dos trunfos para poder levar de vencida a crise que afecta gravemente o País há anos sucessivos, com a fome a alastrar e as famílias a perderem poder de compra de forma galopante.

Entretanto, a OPEP tem hoje, segunda-feira, 03, um encontro por videoconferência onde Angola vai proceder à transição da presidência da organização para a Argélia. Não foi disponibilizada qualquer informação sobre se o ministro angolano dos Petróleos, Diamantino Azevedo, fará uma intervenção.