A reacção dos mercados, não só no Brent, sendo isso igualmente visível no WTI de Nova Iorque, às notícias de um avanço galopante do Sars CoV-2 no gigante asiático em plena ascensão económica está a travar os ganhos no sector petrolífero que esta semana levaram a que fosse batido o recorde de mais de um mês.

Esses ganhos, que quase, quase chegaram a empurrar o barril de Brent, que determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, para valores pré-pandémicos, acima dos 67 USD, foram conseguidos graças ao optimismo que tem conseguido dissipar as trevas geradas pela pandemia.

A reacção de hoje, com uma queda no Brent de 1,1%, face ao fecho de terça-feira, que atirou o barril em Londres para os 65,84 USD, deveu-se ao receio de que os países asiáticos possam estar a perder a batalha contra o coronavírus.

, pelo menos momentaneamente, a receio de que a guerra contra a pandemia possa estar a ser perdida, o que seria um desastre para o sector petrolífero e paara o impulso que se espera na economia planetária nos próximos meses.

Por detrás desta situação está o facto de a Índia, com mais de 1,2 mil milhões de habitantes e uma economia em ascensão, ser um dos maiores importadores de petróleo em todo o mundo e qualquer fragilidade nas defesas do país contra a Covid-19 leva, pelo menos momentaneamente, conduz ao receio de que a guerra contra a pandemia possa estar a ser perdida, o que seria um desastre para o sector petrolífero e para o impulso que se espera na economia planetária nos próximos meses.

Optimismo que é real, a ponto de, por exemplo, o maior negociante independente do mundo da matéria-prima, o VItol Group, ter admitido recentemente que espera que, até finais de 2022, o consumo global aumente até 8 milhões de barris por dia.

Em entrevista à Bloomberg, o director-executivo do VItol Group, Russel Hardy, disse que vão precisar de toda a tracção possível para conseguirem corresponder ao tipo de demanda que perspectivam.

Isto, porque os níveis actuais de consumo situam-se cerca de 3,5 milhões de barris por dia (mbpd) abaixo da média pré-pandémica, que era de perto de 100 mbpd em 2019, embora já tenha estado cerca de 10 mbpd abaixo dessa fasquia.

Com a reabertura acelerada das grandes economias, com o progresso sólido das campanhas de vacinação, e com a pandemia a mostrar que pode ser debelada através de outras mecânicas que não apenas as vacinas, como a massificação dos testes para isolar os casos assim que surgem, a retoma do consumo para níveis próximos dos 100 mbpd e acima deste valor já ao longo de 2022, é dado como seguro por Russel Hardy.

Uma das garantias que o director executivo do VItol Group tem para esta perspectiva optimista é que os stocks existentes nas grandes economias estão a decair de forma acelerada em todo o mundo e o excesso de produção tem igualmente vindo a ser reduzido de forma sólida, prevendo mesmo que esse ponto decisivo venha a ser atingido no final do 3º trimestre deste ano.

E isto vai ser conseguido mesmo com o novo calendário definido pela OPEP+ (OPEP + Rússia e outros produtores não alinhados), que prevê um aumento da produção em 350 mil barris por dia em Maio, outros tantos em Junho e mais 400 mil bpd em Julho.

As perspectivas são boas para os exportadores, especialmente para aqueles como Angola que mantêm uma forte dependência das vendas de petróleo, embora o País se debata com um grave declínio da produção nos últimos anos ostentando evidentes dificuldades em ultrapassar esta fase difícil devido ao forte desinvestimento das "majors" a operar no seu offshore, desde 2014 mas com um "plus" fornecido pela pandemia da Covid-19 desde o início de 2020.

Apesar de tudo, Angola...

... apresenta melhores resultados em Março que em Fevereiro, no que diz respeito à sua produção diária, segundo o relatório da OPEP divulgado na passada semana.

O País produziu em Março, diariamente, 1,163 milhões de barris, mais cerca de 40 mil que no mês anterior, que, no entanto, não afasta o fantasma do declínio da extracção angolana nos últimos anos, tendo mesmo atingido e ultrapassado o cenário pessimista desenhado pela Agência Internacional de Energia (AIE) em 2018, quando previa que Angola estivesse a produzir 1,29 mbpd em... 2023.

Com estes valores, Angola foi ultrapassada pela Líbia, que passa a ser o segundo maior produtor africano, apenas atrás da Nigéria, beneficiando claramente da progressiva estabilidade político-militar, depois de anos a fio de guerra civil, que começou em 2011 com o assassinato de Muammar Khadaffi.

A Nigéria produz actualmente 1,481 milhões de barris diários e a Líbia está nos 1,196 milhões de barris por dia, amos referentes ao mês de Março.

Ainda assim...

A produção nacional média em 2020 foi de 1,22 mbpd, evidenciando o constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.

As exportações de petróleo e gás de Angola caíram 7,26% no ano passado, para 18,2 mil milhões de dólares, resultantes das vendas de 446 milhões de barris de petróleo e gás equivalente.

Estes valores condizem com a exportação de 446 milhões de barris de petróleo e gás, avaliados num preço médio de 41,8 dólares por barril, segundo números fornecidos pelo director do Gabinete de Estudo Planeamento e Estatística do Ministério dos Recursos Naturais e Petróleo, Alexandre Garrett, citado na página oficial do MIREMPET.

Isto compreende ainda a exportação média de 1,22 milhões de barris por dia, consubstanciando uma diminuição de 7,2% em relação a 2019, mostrando uma continuada perda anual da produção nacional.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção afasta-se cada vez mais dos patamares que se viram no passado.

Para já, com o barril na casa dos 67 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de cerca de 28 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.

E no que respeita ao futuro breve, o sector exige reflexão e claramente uma forte aposta na diversificação da economia, porque, como é hoje já consensual, o petróleo não tem muito mais tempo como principal combustível da economia mundial.

O alerta da Carbon Tracker

Alias, um estudo internacional recente, elaborado pela iniciativa Carbon Tracker aponta Angola como um dos países mais vulneráveis ao processo global de descarbonização da economia por razões de protecção climáticas que se traduz mesmo no desinvestimento das petrolíferas no sector para investirem nas denominadas energias limpas.

Este estudo denominado "Beyond Petrostates" nota que Angola enfrenta, até 2040, um défice de receitas na casa dos 76%, o que coloca o País na linha da frente das maiores vítimas deste processo planetário de substituição do petróleo como grande fonte energética mundial, o que exige de Angola um redobrado empenho na diversificação da sua economia.

O estudo diz isso mesmo, que os países nestas condições estão obrigados a definir políticas fortes de substituição de fontes de rendimento sob risco de enfrentarem dificuldades devastadoras para o seu futuro.

Para exemplificar esse abismo que têm pela frente, o estudo revela que as quedas das receitas nos próximos anos vão ser superiores a 13 mil milhões de dólares.

A Carbon Tracker é um think tank financeiro independente que desenvolve análises detalhadas e aprofundadas sobre o impacto da transição energética nos mercados de capitais e no potencial investimento em combustíveis fósseis.