O West Texas Intermediate (WTI), de Nova Iorque, mercado que serve de referência para o petróleo consumido nos Estados Unidos da América, a maior economia global e o maior consumidor de crude no planeta, abriu hoje a perder por barril cerca de 20% em relação ao fecho de segunda-feira, para 10,26 USD - referentes aos contractos de Junho -, fazendo lembrar as históricas segunda e terça-feira, 20 e 21, quando o crude, referente aos contractos de Maio, chegou a valer -40 USD.

Igualmente em baixa, embora menos, esteve o Brent de Londres, mercado de referência para as exportações angolanas, que, nos "futuros" de Junho, 09:15 desta terça-feira, 28, valia 19,25 USD por barril, menos 3,70% que na anterior sessão, o que representa, mais uma vez, valores historicamente baixos.

Tal como na histórica e nunca vista segunda-feira, 20 de Abril, a razão para esta derrocada é a cada vez menor capacidade de armazenamento nas reservas estratégicas das grades economias mundiais, como a China, os EUA, a Índia ou a União Europeia, que, segundo revelou a Goldman Sachs, vai estar totalmente esgotada em três semanas.

Tal cenário, se não ocorrer uma alteração significativa na economia mundial, desde logo uma diminuição do impacto da pandemia da Covid-19, com a descoberta de um tratamento eficaz, a tão almejada vacina, vai provocar, em breve, quando terminar o período de negociação dos futuros de Junho, uma nova batalha para ver quem despacha mais depressa o crude em stock de alto mar, normalmente em superpetroleiros, mesmo que isso tenha que significar pagar para que alguém fique com ele, como sucedeu com os futuros de Maio.

Como se não fosse já um pesadelo, os mercados petrolíferos estão especialmente atentos aos prolongamentos dos períodos de confinamento, geralmente com a imposição de estado de emergência, que tem sido a grande causa para o esmagamento das economias - comercio fechado, fábricas encerradas, turismo suspenso, transportes aéreos e marítimos bloqueados, etc -, quando em Março e início de Abril havia a expectativa de que Maio fosse já o mês de abertura generalizada das maiores economias mundiais.

E, perante esta sucessão de más notícias para os produtores de petróleo, com a expectativa de um novo crash, acumulam-se os indícios de que as companhias petrolíferas com exploração importante em países mais distantes ou com breakeven mais elevado - como é o caso das explorações na África subsaariana, por norma -, estão a reduzir essas mesmas operações, seja no número de trabalhadores - por vezes justificando as medidas com a pandemia -, seja nas dispendiosas operações de pesquisa, mandando retirar os navios-sonda.

Para lidar com este problema, especialmente a questão do armazenamento, os especialistas falam em necessidade de medidas urgentes por parte dos Governos, nomeadamente o aumento dessas infra-estruturas, até porque se pode revelar um bom investimento tendo em conta que, após o fim da pandemia, se adivinha uma assinalável recuperação no valor do "ouro negro".

Até hoje, desde o início da crise económica provocada pela Covid-19, o barril de Brent já perdeu 68 por cento do ser valor, e o WTI perdeu ainda mais, 72%.

O que, por exemplo, em Angola, alguns economistas já admitem que, se não surgirem novidades em breve, o OGE 2020, que está a ser revisto e deve ser aprovado em Maio, tendo passado dos 55 USD como valor de referência do barril, para 35, terá de sofrer novas alterações de novo.

Recorde-se que o petróleo representa hoje mais de 90% das exportações angolanas e cerca de 35 por cento do seu Produto Interno Bruto (PIB) está fortemente ligado à exploração de hidrocarbonetos.