A imposição do uso de combustíveis menos pesados nos navios por esta agência especializada das Nações Unidas, que tem como missão a regulação do transporte marítimo internacional, é considerada por especialistas como uma das mais importantes alterações com impacto no padrão actual de consumo de crude mundial e resulta da carga poluente emitida por eles, sendo que apenas um navio de cruzeiro de grande porte emite, segundo alguns estudos, mais gases poluentes que um milhão de veículos ligeiros.

Um estudo divulgado em 2016 e elabrado por uma associação ambientalista alemã, avançava que um grande navio de cruzeiros emite tanto CO2 como 83.678 carros, ou tantos óxidos de azoto como 421.153 automóveis e tantas partículas como um milhão de veículos, ou ainda tanto dióxido de enxofre como 376 milhões de carros.

Os navios, que hoje recorrem ao denominado "fuel marítimo", cuja principal característica é ser bastante mais barato, são responsáveis por uma laga percentagem da emissão global de gases com efeito de estufa por este combustível, também conhecido por "fundo do barril", tem actualmente entre 3,5 e 4% de enxofre na sua composição.

Mas isso vai mudar de forma radical no primeiro dia do ano que vem, passando este combustível a ter, obrigatoriamente, menos de 0,5% de enxofre na sua composição, o que vai determinar que as refinarias de todo o mundo, em grande parte "afinadas" para trabalhar com crude pesado, o mais abundante em todo o mundo, vão agora ter de fazer gigantescos investimentos na sua adaptação à nova realidade.

Por outro lado, as refinarias que estão já "sintonizadas" com as ramas mais leves, com menos "peso" em enxofre na sua composição, vão deixar de ter mãos a medir para fornecer ao mundo os derivados da matéria-prima que precisa, e, por isso, os especialistas já antecipam um substantivo aumento da procura pelas ramas mais "doces", como é o caso das angolanas com menos enxofre, que, segundo a tabela da Sonangol, são as Nemba, Xicomba e Palanca, embora as agências internacionais como a Reuters, destaquem as Kissange e Hungo (ver tabela no fim do texto)

Segundo uma fonte citada pela Reuters, as vendas angolanas deverão aumentar em Setembro, contra uma quebra sentida em Julho e Agosto, devido ao volume de encomendas oriundas da China referentes às ramas mais leves, adequadas à refinação para produção de fuel compatível com as novas regras da IMO, nomeadamente a Kissange e a Hungo.

E há mesmo especialistas renomados que adivinham uma revolução, tantro na procura como nos preços, no sector petrolífero já a partir de 2020, para a qual os produtores devem estar preparados, sob risco de danos comprometedores, como o NJOnline explicou.

E as perspectivas anunciadas no início de 2018 pela Agência Internacional de Energia para Angola apontam para uma queda para 1,29 milhões de barris por dia, quando, actualmente, esta se situa em torno dos 1,4 milhões, embora a produção angolana de ramas levas possa permitir um equilíbrio na rentabilidade do sector em função destas alterações impostas pela IMO.

A tabela da Sonangol é esta:

Crude Intermédio:

Cabinda Blend: crude de viscosidade média e com pouco enxofre (32.0o API e 0.12% de enxofre), cuja maior parte da produção é exportada para a China.

Dália: crude semi-viscoso e doce (23.65º API e 0.49% de enxofre), meio-acido (1.56mg KOH/g).

Girassol: crude com viscosidade média e teor enxofre baixo (API 30.8º e 0.34% de enxofre). É constituído pelos campos girassol e jasmim.

Hungo: crude intermédio e semi-doce (28.5º API e 0.71% de enxofre). Este crude engloba os campos Hungo e Chocalho no Bloco 15.

Kissanje Blend: crude intermédio e doce (28.2º API e 0.44% de enxofre).

Crude Pesado

Kuito: crude pesado e semi-doce (19º API e 0.68% de enxofre), com muito ácido (2.1 mg KOH/g). Produzido no Bloco 14.

Crude Leve

Nemba: crude leve e doce (38.7º API e 0.19% de enxofre) oriundo do Bloco 0 sito no offshore de Malango, Cabinda.

Palanca blend: crude leve e doce (37.2º API e 0.18% de enxofre), produzido em 5 concessões.

Xicomba: crude com bastante fluidez e doce (34.8º API e 0.39% de enxofre) produzido no Bloco 15. Exportado na totalidade para os E.U.A.