Mohammad Barkindo, na segunda-feira, no Fórum Índia Energia 2020, que teve lugar por videoconferência, depois de sublinhar a condição anémica da recuperação do mercado petrolífero, adiantou que, no entanto, a organização não está a prever que ocorra uma queda na procura similar à que teve lugar no primeiro trimestre deste ano com a eclosão da pandemia da Covid-19.

Citado pelos sites da especialidade, o nigeriano Mohammad Barkindo disse ainda neste importante fórum energético que a contracção do 1º trimestre não terá uma sequela mas sublinhou que o "cartel" está apenas "cautelosamente optimista" de que, mesmo que lenta e anémica, a recuperação se mantenha positiva.

"Estamos cautelosamente optimistas sobre uma recuperação positiva, lenta mas positiva. Poderá levar mais tempo que o esperado mas estamos determinados a manter o rumo", disse Barkindo.

Neste momento, os mercados estão com um problema em mãos que dificilmente se evaporará sozinho, que é o impacto da Covid-19 nas economias mais pujantes, e o seu efeito em cadeia na procura energética, com o crescente número de casos, com alguns países a voltarem aos confinamentos, em Espanha, por exemplo, voltou o estado de emergência.

Mas há um outro problema que depende integralmente dos membros da OPEP e da OPEP+, esta última agrega os 13 países exportadores da OPEP e ainda mais 10 não-alinhados liderados pela Rússia, que é a calendarizada redução em 2 milhões de barris por dia (mbpd) a 01 de Janeiro no programa de cortes na produção, definido para equilibrar os mercados em resposta ao impacto pandémico que actualmente está nos 7,7 mbpd.

A par desta reinjecção de 2 mbpd nos mercados no início de 2021, a OPEP+ tem igualmente outra dor de cabeça Made in Lìbia, que é a forte recuperação da produção neste produtor da África do Norte, onde estão as maiores reservas do continente e que o conflito armado interno praticamente reduziu o potencial produtivo a zero nos últimos meses.

Mas, com o cessar-fogo conseguido através da mediação da ONU, entre os rebeldes do general Haftar e o Governo de Fayez al-Serraj, a máquina extractiva líbia está a voltar a pulsar e já vais nos 300 mil bpd, com o anúncio oficial de que, em duas semanas, vá atingir o milhão de barris, com tendência crescente para a velocidade de cruzeiro que, em 2010, antes do início das hostilidades, com a deposição de Muammar Khadaffi, em 2011, era de 1,65 milhões de barris diários.

Sabendo que os analistas dos mercados estão focados neste momento em dois pontos fulcrais, a evolução da pandemia e as opções da OPEP+ para controlar os mercados, e sabendo que sobre a Covid-19 não há nada que o "cartel" possa fazer, já sobre as mexidas no plano de acção, sublinhou a "determinação" do grupo para "restaurar a estabilidade" através de uma paulatina diminuição dos stocks para equilibrar a oferta e a procura.

Isto, segundo alguns analistas, é uma afirmação de disponibilidade para agir em função das circunstâncias, ou seja, se for necessário a OPEP+ poderá adiar a redução dos cortes previstos para Janeiro próximo.

No dia de hoje, quinta-feira, 29, os mercados estão ainda menos optimistas que Barkindo, com o Brent, em Londres, onde se define o valor médio das exportações angolanas, está a revelar uma sensibilidade extrema à crescente vaga da pandemia da Covid-19, com uma queda, cerca das 10:50 de Luanda, de 2,68%, depois de ontem já ter perdido mais de 5%, referente aos contratos para Dezembro, com o barril a valer 38,05, baixando da fasquia simbólica dos 39 USD, que é o valor definido pelo Executivo angolano para o Orçamento Geral do Estado de 2021.

O WTI de Nova Iorque, mercado que mede os "humores" da economia norte-americana, estava a mostrar-se igualmente pessimista, com um mergulho de 2,73%, depois de na quarta-feira ter perdido mais de 5,5%, baixando para os 36,33 USD por barril, à mesma hora de Luanda, igualmente para os contratos de Dezemebro.

A contribuir para estes valores em baixa estão ainda, como foi na passada semana, toda ela de perdas no sector petrolífero, igualmente nesta, a retoma da produção na Líbia, depois do cessar-fogo conseguido pelas Nações Unidas entre os rebeldes do general Khalifa Haftar e os governo de Trípoli de Fayez al-Serraj, passando de zero barris a mais de 300 mil em escassos dias e com perspectivas de atingir 1 milhão de barris por dia na primeira semana de Novembro.

E a contribuir igualmente para esta semana em baixa está a inusitada divulgação de um aumento significativo das reservas norte-americanas, mostrando uma desaceleração do consumo, que é visto normalmente como uma retracção da maior economia do planeta.

A ameaça que vem da Patagónia

No futuro, para os próximos cinco anos, podendo começar antes do final desse tempo, a OPEP e a OPEP+ têm uma dor de cabeça extra para lidar, que é o forte investimento que a Argentina está a fazer na exploração de gás de xisto, ou fracking, na Patagónia, numa área denominada Vaca Morta.

Buenos Aires, cuja economia atravessa há anos uma severa crise, tem neste projecto uma possibilidade sólida de diminuir a sua dependência das importações de gás natural - o país é independente na produção de petróleo, exportando mesmo uma pequena percentagem da sua produção -, apostando nisso cerca de 5,1 mil milhões de dólares, com o objectivo de conseguir atrair outros 5 mil milhões para investimento estrangeiro.

Com este projecto, a Argentina quer, segundo deixou saber o Governo de Buenos Aires, a ser independente na importação de gás, o que vai resultar em menos um importador a operar nos mercados internacionais do gás natural e potenciar de forma substancial as suas exportações de petróleo, pressionando também por aí o preço do barril em baixa nos mercados internacionais.

Actualmente a Argentina produz uma quantidade insignificante de gás para as suas necessidades neste campo de Vaca Muerta, que fica na província de Neuquén, querendo agora crescer enquanto produtor.

O Presidente do país, Alberto Fernandes, deslocou-se a esta província para anunciar o projecto de investimento, sublinhando que se trata de investir e não gastar, porque "o que está em causa é substituir as importações nacionais no sector energético, vital para a vida da Argentina".

A par deste projecto de fracking para o gás natural, o Governo tem igualmente em curso um conjunto de pesquisas para revitalizar o sector petrolífero nacional, tendo no horizonte também aumentar a produção crude.

Actualmente, a Argentina, valores referentes a 2016, tem reservas estimadas em mais de 2,4 mil milhões de barris de petróleo e uma produção anual em torno dos 700 mil barris, de diferentes origens, quase o insuficiente para as necessidades do país, cujo consumo diário se situa na ordem dos 720 mil barris.

Actualmente, de acordo com números oficiais, o país exporta mesmo cerca de 5% da sua produção total de crude.

OGE 2021

Para Angola este cenário, que aponta directamente a 2021, tende a ser terreno movediço, visto que o Conselho de Ministros acaba de aprovar uma proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE 2021) onde o preço de referência do barril de crude é fixado nos 39 USD, mais 6 USD que o orçamento em curso neste ano de 2020.

As exportações de petróleo são ainda responsáveis por mais de 95% do total das exportações nacionais e o que se estima para os próximos anos no sector energético está longe de ser um cenário optimista para as contas públicas do País.

O OGE 2021, saído da Comissão Económica do Conselho de Ministros, ainda na fase de proposta, contempla em receitas e despesas valores iguais de 14,114 biliões Kz.

A incerteza da economia global, pressionada fortemente pela pandemia da Covid-19 e os eventuais efeitos para o mercado da energia em 2021, é considerado pelo Governo, nomeadamente na área do petróleo, fundamental para a economia nacional.

Actualmente, o barril de crude vendido no Brent de Londres está cerca de 10 USD acima do valor de referência contido no documento-mestre para as contas publicas nacionais nos próximos meses.