Estes grupos armados de "vigilantes" já fizeram pelo menos oito vítimas mortais e dezenas de feridos, entre estes vários moçambicanos que transitam pelo Malawi em direcção à Tanzânia e à Zâmbia, acusando-os de serem seguidores de um estanho culto religioso que alegam ter entre as suas práticas chupar sangue a humanos, obtendo bênçãos dessa forma por agradar a divindades animistas.

Confrontado com esta vaga de crimes, o Presidente Peter Mutharika já veio a terreiro, depois deste bizarro culto chegar aos media internacionais, através de um relato da AFP, dizer que se tratam de "rumores criados para servir interesses políticos" ao espalhar "medo e pânico" antes das eleições que se avizinham.

As vítimas moçambicanas faziam parte de um grupo surpreendido pelos "vigilantes" quando procuravam chegar à Tanzânia através do norte do Malawi, tendo uma fonte contado que, porque não conseguiam perceber o que essas pessoas diziam, devido ao idioma diferente - português -, acabando esse dado por contribuir para o desfecho trágico.

"Com o espalhar destes rumores sobre a existência de seguidores de um culto de sugadores de sangue - vampiros -, as pessoas armaram-se e estão a fazer justiça pelas próprias mãos e a polícia quando chega, por vezes já é tarde demais, como sucedeu com os moçambicanos, com dois mortos encontrados pelas autoridades", contou um responsável governamental local.

Para já, depois da intervenção do Presidente Mutharika, que criticou de forma veemente estes episódios de justiça popular, a polícia lançou uma larga operação para deter os responsáveis e desmembrar estes grupos de "vigilantes", tendo feito quase 120 detenções.

Num discurso à Nação na semana passada, Peter Mutharika disse que estes rumores não tê qualquer fundamento e foram "deliberadamente gerados" no âmbito de uma "estratégia política" para que o pânico se espalhe, para que, face às eleições que se aproximam, dele retirar dividendos eleitorais entre uma população largamente crente em cultos esotéricos.

O Presidente lamentou ainda que essas pessoas os responsáveis pelos rumores, não tenham em consideração que o país está a fazer frente a um desafio gigante que é a pandemia da Covid-19, e que isto dificulta ainda mais essa luta apesar de o Malawi ter sido um dos últimos países a registar casos do novo coronavírus, a 02 de Abril.

Este tipo de rumores já não é novo no Malawi, e já sucederam noutros países africanos, como em 2017, quando a polícia registo pelo menos nove mortos levando as Nações Unidas a intervir de forma a que o Governo criasse políticas para punir os seus responsáveis.

Também desta feita, a ONU, através do seu representante local, Maria Torres, citada pela AFP, veio dizer que "estes mitos e a desinformação que os alimenta são extremamente perigosos", constituindo uma ataque claro aos Direitos Humanos "e uma brecha na lei".

A crença local é que os "vampiros" usam poderes sobrenaturais para imobilizar as pessoas enquanto lhes sugam o sangue que, mais tarde, será usado em actos de magia, sendo que no mesmo guião para esta actuação criminosa, os autores terão origem em Moçambique.

A pobreza extrema, segundo ONG"s que trabalham no terreno, a falta de escolaridade, e a ancestral dependência do sobrenatural, são os elementos por detrás desta realidade.