Em algumas cidades destas províncias, onde habitam mais de 100 milhões de pessoas, como Shulan, na província de Jilin, as autoridades optaram por medidas mais radicais para conter a expansão do vírus, como a suspensão dos transportes públicos e o encerramento de escolas.

Nalgumas áreas destas cidades, cordões sanitários foram criados para impedir a saída e entrada de pessoas, fazendo lembrar o confinamento a que foram obrigadas, em Janeiro, os 10 milhões de habitantes de Whuan, a cidade onde tudo começou, em Dezembro de 2019, quando o novo coronavírus foi descoberto num mercado de animais vivos.

Sob fortes críticas do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por, segundo este, Pequim ter tardiamente reagido aos primeiros indícios de que um grave surto de um novo coronavírus estava a emergir em Wuhan, desta feita, as autoridades chinesas resolveram adoptar medidas drásticas em Jilin e LIaoning para evitar que a China ressurja como responsável por uma segunda e abrangente vaga da pandemia da Covid-19.

E uma das medidas que foram assumidas nos últimos dias foi a proibição total de consumo de carne de animais selvagens em Wuhan, uma exigência fortemente sublnhada por muitas vozes no Ocidente por se julgar, e haver evidências científicas disso, que o novo coronavírus chegou aos humanos devido ao consumo de uma espécie de morcego, considerada uma iguaria na China.

De acordo com as agências de notícias com jornalistas no terreno, cerca de 108 milhões de pessoas estão agora, pelo menos desde a semana passada, sob um qualquer tipo de restrição à sua mobilidade, na maior parte ainda ligeiras, sendo que as áreas de maior cuidado são as cidades de Shulan - onde começou este novo surto - e, entre outras, Shenyang, onde, inclusive, nalguns quarteirões, milhares de pessoas estão obrigadas a permanecer em casa para rigorosas quarentenas.

Este abrupto retorno a medidas draconianas de confinamento na China está a apanhar de surpresa os mercados bolsistas um pouco por todo o mundo, que estavam a dar sinais de retoma da normalidade e, agora, estão num misto de receio e expectativas face ao que poderá suceder no gigante asiático e onde, primeiro que noutra qualquer parte do mundo, a pandemia estava a ser dominada e ultrapassada com a economia a reflorescer de forma vigorosa.

Estas medidas agressivas de contenção surgiram depois de terem sido detectados algumas dezenas de casos nestas duas províncias do nordeste chinês, até ao momento apenas cerca de 40, mas, de acordo com analistas ouvidos pelos media internacionais, a resposta de Pequim denota claramente a vontade de não querer voltar a estar sob as atenções do mundo devido a qualquer tipo de inacção face ao risco de uma segunda vaga pandémica.

Mas, naquilo que importa para Angola, nomeadamente no impacto que a crise da Covid-19 teve e está a ter sobre as exportações de petróleo, para já, os mercados não estão a valorizar excessivamente estas notícias, destacando-se antes os efeitos positivos do anúncio da União Europeia em injectar 500 mil milhões de euros nas economias dos Estados-membros que foram fortemente fragilizadas pela crise, com subidas importantes, tanto no sector dos petróleos como nas bolsas de valores mundiais.

Alias, o Brent, em Londres, determinante para as exportações angolanas, e o WTI, em Nova Iorque, que define o que vale o crude nos EUA, que são os mercados de referência principais para o negócio do petróleo, estavam hoje, perto das 10:00, a ignorar este reconfinamento na China, com subidas de 1,7%, nos contratos de Junho, no WTI, para 34,11 USD, e de 1,37%, no Brent (contratos de Julho), para 36,29 USD por barril, 1,29 USD acima do valor de referência que o Executivo de João Lourenço usou, 35 USD, para rever o OGE 2020, que deve ser aprovado nas próximas semanas.

O que fica claro nesta reacção de Pequim aos novos casos detectados nestas duas províncias do nordeste chinês, é que o Presidente Xi Jinping não quer voltar a estar sob a mira do seu homólogo norte-americano, Donald Trump, que tem insistido nas acusações sobre um alegado desleixo da China na forma como deixou andar o vírus nos primeiros dias do surto, permitindo que este crescesse e se transformasse naquilo que é, actualmente, uma das mais letais pandemias a que o mundo já assistiu em décadas, com mais de 5 milhões de casos e mais de 330 mil mortes em todo o planeta.

Para isso, o líder da task force do Executivo de Jinping, o seu vice-primeiro-ministro, Sun Chunlan, que liderou o ataque à infecção em Whuan, está desde terça-feira da semana passada em Jilin, a comandar os esforços de contenção desta nova mini vaga da Covid-19, que, como admitem as autoridades locais, poderá ter sido importada da Rússia, o país com mais casos em todo o mundo - logo a seguir aos Estados Unidos -, com mais de 317 mil casos.

Uma das conclusões a que chegam alguns especialistas em saúde pública chineses, como Wang Bin, um elemento da comissão nacional de Saúde, numa comunicação oficial, é que as importações de casos do exterior estão a gerar uma pressão enorme sobre a capacidade de resposta existente.

Já Zhong Nanshan, um experimentado epidemiologista chinês, citado pela CNN, afirma que estes novos casos deixam em aberto a possibilidade de vastas áreas do país estarem actualmente muito vulneráveis e representam "um enorme desafio" porque, apesar da experiência bem-sucedida em Wuhan, o país "não está melhor preparado que o resto do mundo" para lidar com o regresso em força da infecção.