Num comunicado do Banco Central da Ucrânia, que tem estatuto de regulador, citado pela imprensa internacional, esta desvalorização da Grívnia é justificada como uma consequência directa do conflito porque os cinco meses de guerra - que se completam este Domingo, 24 - alteraram de forma substantiva "as características fundamentais da economia" do país.

Na mesma nota, a instituição reguladora do sistema financeiro ucraniano destaca que neste período que coincide com o conflito no leste europeu observou-se ainda uma forte valorização da moeda norte-americana, tendo esta, por exemplo, atingido, e mesmo ultrapassado por breves instantes, a paridade com o Euro.

Esta medida extrema surge dois dias depois de o Governo de Kiev avançar com um pedido de congelamento dos pagamentos da dívida externa por dois anos.

Com este contexto assegurado, o Governo de Volodymyr Zelensky pretende conseguir uma maior competitividade para a sua economia, impulsionando as exportações através da desvalorização da Grívnia e aliviando a pressão nas contas públicas co a suspensão dos pagamentos dos "bonds" quando os recursos existentes são absorvidos quase na totalidade pelo esforço de guerra contra a Rússia.

Porém, esta medida tem, como alguns analistas estão a destacar, outra consequência, que é o facto de os países ocidentais, União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos, terem desenhado as suas sucessivas vagas de sanções à Rússia com o objectivo de massacrar a sua economia, desde logo a sua moeda nacional, o Rublo, o que foi conseguido nas primeiras semanas de guerra.

Mas, cinco meses passados, o cenário é o contrário: a moeda ucraniana desvitaliza de forma substantiva enquanto o Rublo russo não só recuperou das quedas abruptas iniciais como está a subir já de forma considerável tendo como referência o período pré-conflito, tendo atingido ganhos de cerca de 30%.

A perda de viço da Grívnia em 25%, uma desvalorização catastrófica em termos internacionais, emerge de um cenário político em Kiev incandescente, com Volodymyr Zelensky a demitir a Procuradora-Geral da República e o chefe nacional dos Serviços de Segurança, Iryna Venediktova e Ivan Bakanov, acusando-os de traição, procedendo ao mesmo tempo a uma intensa limpeza nestas duas instituições, de onde foram demitidos dezenas de funcionários pelos mesmos motivos.

Mostrando o mesmo nervosismo, o Presidente ucraniano saiu a terreiro criticando a União Europeia por mostrar pouco empenho no novo pacote de sanções à Rússia que, entre ouras decisões, inclui um embargo total ao ouro russo, que vale perto de 18 mil milhões de dólares anualmente mas que é facilmente redireccionado do mercado europeu para o mercado asiático.

China pede retoma das negociações e um cessar-fogo imediato

O embaixador da China nos EUA lançou um fulminante pedido de retoma das negociações entre Moscovo e Kiev e um cessar-fogo imediato, o que em diplomacia é lido como uma exigência de Pequim, e permite ainda a leitura de algum cansaço do Governo chinês com este conflito.

Qin Gang, o diplomata que representa Pequin em Washington, disse, de forma clara, que a China quer acabar com esta guerra quanto antes, envolvendo nas discussões para um cessar-fogo todas as partes, sem esquecer a NATO e os Estados Unidos, o que deixa subentendido que Pequim dá como certo o envolvimento directo destes no conflito.

Num fórum sobre segurança, no Colorado, Gang lembrou que a guerra no lese europeu resultou em múltiplas crises em todo o mundo e já trespassou largamente as fronteiras da Ucrânia e da Rússia.

"Sentem-se e acalmem-se porque só assim poderão encontrar uma saída para este dilema", disse o diplomata chinês, propondo ainda que essa solução possa acomodar os interesses e preocupações vitais.

"Só assim se pode alcançar a paz, restaurar a confiança e a segurança na Europa, que devem ser abrangentes e balanceadas, bem como sustentáveis e efectivas", acrescentou Qin Gang.

Mas estas declarações contrastam com as recentes do ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitri Kuleba, que voltou a insistir que só poderão haver negociações depois de uma derrota inequívoca da Rússia no campo de batalha, o que é o mesmo que disseram antes o responsável da diplomacia da União Europeia, Josepp Borrel, e o Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin.

Estas palavras de Kuleba, Borrell e Austin não permitem detectar um caminho de saída semelhante ao proposto por Pequim, o que pode levar a China a assumir uma posição menos distanciada das partes neste conflito.

Putin questiona reparação de turbina do Nord Stream e reforça dúvidas sobre corte do gás (Lusa)

Entretanto, segundo noticia a Lusa, o Presidente russo Vladimir Putin questionou esta quarta-feira o estado de uma turbina do gasoduto Nord Stream 1 reparada no Canadá, alimentando a incerteza sobre o futuro das entregas de gás da Rússia aos países europeus.

A turbina Siemens é considerada por Moscovo como essencial para o bom funcionamento do gasoduto que abastece a Alemanha e a Europa e que se encontra atualmente encerrado para manutenção, que deverá estar concluída na quinta-feira.

O Canadá, para onde tinha sido enviada para reparações numa fábrica do grupo alemão, devolveu a turbina à Alemanha, mas o calendário da sua entrega à Rússia continua incerto.

"Dizem que as vão devolver (turbinas), pelo menos uma delas. Mas em que condições a vão devolver? Quais serão os parâmetros técnicos após a reparação?", indagou Putin, citado pela agência noticiosa Tass, acrescentando: "Talvez eles (os operadores de gasodutos) tenham simplesmente de a desativar em algum momento e depois o Nord Stream 1 vai parar".

Os comentários do chefe de Estado russo vêm reforçar as dúvidas e preocupações dos europeus relativamente ao abastecimento de gás no futuro próximo.

Um dos cenários já traçados é que Moscovo utilize um problema técnico descoberto durante a manutenção como desculpa para não retomar as entregas via Nord Stream 1 e, dessa forma, exercer pressão sobre os países europeus no contexto do conflito na Ucrânia.

Antes do encerramento do Nord Stream 1, a Rússia já tinha reduzido drasticamente as entregas nas últimas semanas, alegando a falta de turbinas Siemens.

Nesta quarta-feira, Putin acusou ainda o Canadá de atrasar o envio da turbina reparada na esperança de poder impulsionar as suas próprias vendas de gás para a Europa.

"Os motivos (do Canadá) estão relacionados com os seus esforços para entrar no mercado europeu, porque quer desenvolver a sua própria produção de gás no país. É isso mesmo", referiu o Presidente russo.

A controvérsia sobre as turbinas foi descrita por Berlim como um "pretexto" para a Rússia interromper as entregas e a União Europeia (UE) acusou Moscovo de utilizar o gás "como arma".

As dificuldades em torno das entregas através do gasoduto Nord Stream 1 surgem numa altura em que os países europeus estão a tentar aumentar as suas reservas de gás para o inverno. Neste contexto, os estados-membros da UE estão a tentar diversificar os seus fornecedores de gás, voltando-se para os Estados Unidos, Qatar, Azerbaijão, entre outros países.

Moscovo adverte para possível corte total na produção de petróleo

O Governo russo acaba de lançar outra "bomba" na economia global ao advertir que deixará de produzir petróleo, "na totalidade", o que vai resultar em menos até 8 milhões de barris por dia nos mercados, se o plano ocidental para colocar artificialmente um preço máximo para o crude Made in Russia for avante e levar a que a produção deixe de ser rentável para o Kremlin.

Citado pelos media russos, o vice-primeiro-ministro Alexander Novak avançou que se os preços de que os países do G7, que agrega os sete mais ricos do mundo, estão a falar como valor máximo a pagarpelo crude russo for efectivado, "a Rússia deixará de produzir petróleo" porque não vai "manter a sua indústria do petróleo a funcionar a preços abaixo de custo. Simplesmente não vamos trabalhar a preços negativos".

Recorde-se que em Junho deste ano os países do G7, reunidos na Alemanha, anunciaram como principal medida das sanções contra a Rússia deste grupo a colocação de um tecto máximo de compra do crude exportado pela Rússia, justificando a medida com a necessidade de reduzir os ganhos russos com a sua energia exportada.

Isto, porque o Ocidente, União Europeia, Reino Unido e EUA aplicaram largas centenas de sanções ao Kremlin, em sete pacotes sucessivos, visando destruir a sua economia mas o resultado tem sido, pelo menos até agora, o contrário, com, por exemplo, mais ganhos de Moscovo com o gás e o petróleo, que galgaram fortemente nos mercados como consequência das sanções ocidentais.

Para já, o G7 ainda está a estudar a forma de conseguir a efectivação desta medida, mas a Bloomberg estima que possa ver a ser conseguida através de um complexo esquema que envolve as seguradoras e o transporte marítimo do crude.

Se a medida for aplicada e a Rússia deixar de enviar o seu petróleo para os mercados, o resultado será um aumento substantivo dos preços do barril nos mercados internacionais, o que, segundo a maior parte dos analistas, mais uma vez sairia o tiro pela culatra dos países ocidentais, embora a Rússia possa ficar sem uma forte componente das suas receitas anuais.

Alguns lideres russos admitem que o barril possa chegar aos 400 USD se tal for aplicado de facto.

Os drones do Irão

Entretanto, depois do anúncio de uma possível entrega pelo Irão de drones militares à Rússia, no âmbito da cooperação entre os dois países, os EUA avisaram Moscovo e Teerão de eventiais consequências, advertindo ambões de que estão a acompanhar de pero esta situação.

O Departamento de Estado advertiu o Irão para os riscos de fornecer drones à Rússia, estando a monitorizar de muito perto esta possibilidade admitida depois de Vladimir Putin ter ido a Teerão para se encontrar com o seu homólogo turco, recep Erdogan e o anfitrião, Ebrahim Raisi.7

Uma das eventuais consequências é o aumento das sanções norte-americanas ao Irão, já de si pesadas no âmbito do problemático acordo nuclear que visa impedir Teerão de obter uma ama nuclear.

Da parte de Teerão ainda não houve resposta a esta ameaça americana.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.

O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.