Mugabe morreu num hospital em Singapura, rodeado pela sua família e pela sua mulher, Grace, indicaram várias fontes aos órgãos de comunicação social locais.

O ex-Presidente do Zimbabué estava a receber tratamento médico na cidade asiática há cinco meses.

Robert Mugabe passou, durante o seu "reinado" de 37 anos, de herói da independência e amigo do Ocidente a tirano responsável pelo descalabro económico no país.

Nascido em 21 de Fevereiro de 1924, Mugabe, filho de um carpinteiro e de uma professora, estudou em escolas maristas e jesuítas até se tornar também ele professor.

O emblemático líder iniciou a sua luta política aos 36 anos, militando em vários grupos na incipiente luta de independência da Rodésia (como era chamado o Zimbabué) do Reino Unido, tendo mesmo sido preso em 1964.

Mugabe passou uma década na prisão, foi forçado a viver no exílio e foi um dos signatários dos "acordos da Casa de Lancaster", que enterraram a antiga Rodésia e deram origem à nova República do Zimbabué em 1980.

Em 1979, a então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher anunciou que o Reino Unido reconheceria oficialmente a independência da Rodésia. Mugabe foi eleito primeiro-ministro no ano seguinte.

Nas primeiras eleições, tornou-se o primeiro-ministro desta embrionária república, uma posição que foi abolida em 1987 quando foi criado o cargo de Presidente.

A sua política de reconciliação, em nome da unidade do país, rendeu-lhe elogios gerais, especialmente junto das capitais estrangeiras.

"Vocês eram meus inimigos ontem, agora são meus amigos", disse, na altura, o ex-líder guerrilheiro.

Nos primeiros tempos como mandatário ofereceu importantes posições ministeriais aos colonos brancos e até permitiu que o líder, Ian Smith, permanecesse no país.

Em 1982, enviou o exército para a província dissidente de Matabeleland (sudoeste).

Esta repressão executada pelo Exército Nacional do Zimbabué causou, até o final de 1987, mais de 20.000 mortos.

Mas o mundo "fechou os olhos". Só na década de 2000, quando começa a política de expropriações de milhares de fazendas de ocidentais para distribuir a terra entre a população negra do país, e após vários abusos contra a oposição e fraude eleitoral, é que a comunidade internacional muda de opinião sobre Mugabe.

Centenas de milhares de negros tornam-se proprietários de terras devido à violência que forçou a maioria dos 4.500 fazendeiros brancos a deixarem o país.

A reforma precipita o colapso de uma economia já em dificuldades. O dinheiro é escasso e 90% dos zimbabuanos estavam desempregados.

Robert Mugabe responsabiliza o Ocidente por todos os males do seu país, em especial a ruína financeira, e rejeita todas as acusações de desvio autoritário.

A sua fobia em relação aos homossexuais também causou indignação internacional. Robert Mugabe chegou a considerar os homossexuais como "piores que porcos".

Aos 93 anos, Mugabe anunciou a sua intenção de participar novamente nas eleições. Tudo parecia indicar que nada mudaria para o Zimbabué no curto prazo. Até que em 14 de Novembro de 2017 tanques militares começaram a marchar pela capital, Harare.

Naquela mesma noite, o alto comando do Exército assumiu o controlo do país.

Mugabe e a sua família saíram ilesos, mas foram retidos na sua residência.

O que desencadeou esta manobra militar foi a demissão do então vice-presidente e hoje Chefe de Estado, Emmerson Mnangagwa, um veterano de guerra, no meio de tensões entre este e a primeira-dama, Grace Mugabe, sobre quem deveria suceder a Robert Mugabe.

Mugabe foi demitido sete dias mais tarde, a 21 de Novembro, e substituído três dias depois por Mnangagwa, de 76 anos, uma alteração histórica que provocou o júbilo do povo nas ruas de um país próspero que o antigo Presidente conduziu à ruína.

Mnangagwa legitimou-se depois de ganhar as eleições, em 30 de Julho de 2018, apesar de o seu opositor Nelson Chamisa, que lidera o Movimento Mudança Democrática (MDC) e perdeu as eleições, ter rejeitado o resultado eleitoral.

Hoje, foi o próprio Emmerson Mnangagwa a anunciar "com muita tristeza (...) a morte do pai fundador e ex-Presidente do Zimbabué, major Robert Mugabe"

"[Mugabe] Era um ícone da libertação, um pan-africanista que dedicou a sua vida à emancipação e capacitação do seu povo. A sua contribuição para a História da nossa nação e continente nunca será esquecida. Que a sua alma descanse em paz eterna", acrescentou.

Desde a sua renúncia forçada, as aparições públicas de Mugabe foram muito poucas. Numa delas, numa entrevista concedida à televisão pública sul-africana SABC, afirmou que a sua saída do cargo havia sido "um golpe de Estado".