Entre Sábado e segunda-feira, as forças governamentais leiais ao primeiro-ministro Abiy Ahmed, que foi Prémio Nobel da Paz em 2019, lançaram pelo menos dois ataques com recurso a aparelhos não tripulados, drones, matando 74 pessoas, num campo de refugiados e num edifício onde funcionava uma moagem.

Estes ataques estão a gerar forte reacção na comunidade internacional porque denotam um descontrolo das forças de Ahmed que já não distinguem populações civis dos guerrilheiros da Frente Popular de Libertação de Tigray que, em Novembro de 2020, lançou uma insurreição armada que já se estendeu à periferia de Adis Abeba, ameaçando directamente o poder de Abiy Ahmed, que há semanas informou que ia vestir à farda para comandar as tro+as directamente a partir da frente de batalha.

O primeiro-ministro, que conta com o apoio de alguns países da região, com milhares de mercenários à sua disposição, e com o apoio directo do Governo da Eritreia, vizinho do norte da Etiópia e pais com fronteira com a região autónoma de TIgray, esteve ao telefone com o Presidente dos EUA, Joe Biden, de quem, segundo a imprensa norte-americana, ouviu apelos intensos para que procure uma solução pacífica para o conflito.

Este conflito tem já todos os condimentos, como o Novo Jornal tem vindo a noticiar (ler links das notícias no fundo da página), para se tornar num dos mais graves em África no século XXI considerando que já há registo de milhares de mortos, centenas de milhares de feridos e um número impossível de calcular de deslocados nos vizinhos Sudão e Eritreia, entre outros.

Nesta conversa, Biden questionou Ahmed sobre os ataques com drones e as suas consequências, nomeadamente sobre civis, num conflito onde estes são, para já, e de longe, as grandes vítimas da violência.

Como recorda hoje a Lusa, a guerra no Tigray eclodiu a 04 de Novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o Exército federal para a província no norte do país, com a missão de retirar pela força as autoridades locais da TPLF, que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.

Abiy Ahmed declarou vitória três semanas depois da invasão, quando o Exército federal capturou a capital, Mekele.

Em Junho deste ano, porém, as forças afectas à TPLF já tinham retomado a maior parte do território do Tigray, e continuaram a ofensiva nas províncias vizinhas de Amhara e Afar.

Em Novembro, as forças de Tigray e forças insurgentes aliadas da Oromia (outra província etíope) começaram a retirar das áreas ocupadas para a região de origem. Em contrapartida, o poder em Adis Abeba comprometeu-se em não voltar a invadir a província rebelde.

O Exército federal está nas fronteiras de Tigray e retomou o controlo de várias posições anteriormente nas mãos das forças da TPLF em Amhara e Afar.

O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.

A ONU estima, por outro lado, que entre Novembro e Dezembro tenham sido detidas entre 5.000 e 7.000 pessoas, incluindo membros do seu pessoal, sobretudo de etnia tigray.

Os intensos esforços diplomáticos, incluindo os da União Africana, para alcançar um cessar-fogo, não produziram até agora qualquer progresso decisivo.