Os Democratas do Presidente Joe Biden, cujo símbolo é um burro, conseguiram por uma unha manter o controlo do Senado nas eleições de meio de mandato, mas foram os elefantes, animal que integra a bandeira dos Republicanos de Donald Trump, que reconquistaram a Câmara dos Representantes, o que, para já, garante uma acrescida dificuldade de governação para a Administração norte-americana, nomeadamente quanto à aprovação de despesas estratégicas, desde logo o gigantesco e continuado financiamento da Ucrânia na guerra que trava há quase nove meses com a Rússia, mas também no que diz respeito a projectos internos.

Nas eleições de 08 de Novembro, como sucede em todas as denominadas eleições de meio mandato, estiveram em disputa todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes e 35 dos cem lugares no Senado, sendo já claro, mesmo que algumas cadeiras estejam ainda por definir o seu "dono", que o Partido Republicano conseguiu a maioria, embora por escassa margem, enquanto no Senado, quando ainda está em disputa um lugar, os Democratas já garantiram 50 lugares, o que lhes garante uma maioria de decisão, mesmo que os Republicano ainda consigam o lugar que falta decidir, porque, nesse caso, a Vice-Presidente Kamala Harris, passa a deter a última palavra.

Estes resultados não são uma surpresa, porque a contagem lenta mas continuada dos votos foi indicando que o cenário actual era o mais expectável, mas não foi assim antes da ida às urnas, onde todas as sondagens davam uma vitória esmagadora dos Repúblicanos nos Representantes e uma muito provável vitória no Senado.

Com esta composição de poderes distribuídos no Congresso, uma coisa é já certa: a maioria Republicana nos Representantes vai fazer a vida tão difícil quanto lhes for possível ao Presidente Joe Biden, que já disse querer recandidatar-se, para os dois anos que lhe restam de mandato, tendo em 2024, como cenário mais provável, à sua espera uma nova corrida com Trump, que anunciou a sua terceira recandidatura esta terça-feira.

Desde logo porque a Constituição norte-americana determina que é na Câmara dos Representantes que se forma o Governo e se decidem matérias de interesse nacional, desde logo as questões de proximidade aos eleitores nos círculos de votação, são propostas, debatidas e aprovadas leis e emendas a leis, e, em pano de fundo, se faz o escrutínio alargado do Executivo.

Com este, os "elefantes" não só podem travar a acção governativa de Biden como podem levar a discussão as suas mais decisivas linhas de orientação, como a questão do gigantesco financiamento à Ucrânia, embora a política externa seja de incumbência mais detalhada do Senado, mas o mais importante é no que toca aos vastos projectos de investimentos no território nacional, como os de recuperação das infra-estruturas rodoviárias, portuárias, ferroviárias, que durante décadas foram desleixadas.

Na linha da política mais dura, esta vitória dos Republicanos significa que vão ser desencadeados em catadupa processo de investigação às decisões de Biden, começando pela atrapalhada saída do Afeganistão, às decisões de inundar a Ucrânia de dinheiro e material militar, passando pela faiscante polémica que envolve o seu filho, Hunter Biden, com muito por explicar em questões que o ligam a negócios e acções duvidosas nos EUA e na Ucrânia.

Mas Joe Biden não aparece neste contexto impróprio para fracos como o patinho feio, porque os resultados lhe deram a melhor votação eme eleições intercalares para um Presidente em exercício, desde a década de 1980, augurando-lhe espaço de manobra para dar luta à esperada "guerra" política nos Representantes.

E pode-se ainda dizer que Donald Trump é um dos grandes derrotados destas eleições, porque a escassa margem da vitória nos Representantes e a derrota no Senado, o fragilizam pelo facto de o que era esperado era uma vitória esmagadora, estando agora em cima da mesa Republicana a possibilidade de um desafiador da liderança de Trum, como já se fala de Ron DeSantis, que conseguiu um grande resultado na Florida ao distanciar-se da linha dura e folclórica do antigo Presidente, que foi derrotado em 2020 quando procura a reeleição para um segundo mandato por... Joe Biden.