Vladimir Putin, num fórum sobre ambiente, explicou a sua ideia, que resulta claramente do seu interesse imediato em atacar a Europa ocidental e os EUA pela opção política de reduzir as importações de gás natural russo, afirmando que as potências económicas ocidentais estão a substituir a queima de gás natural pelo ultra-poluente carvão que era o diabo na boca desses mesmos países.

Segundo o chefe do Kremlin, a opção ocidental de sancionar a Rússia com a redução das suas importações de gás, ao mesmo tempo que procuram atingir as metas definidas como fundamentais para reduzir a temperatura planetária até meados do século de acordo com os parâmetros do "Acordo de Paris", é "simplesmente uma impossibilidade".

O pressuposto do líder russo é que, apesar de ser uma energia poluente e emissora de gases com efeito de estufa, o gás natural é menos nocivo que outros como o petróleo, mas essencialmente o carvão, sendo, por isso, o melhor combustível de transição para as energias limpas.

E a verdade é que os países europeus ocidentais, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a 24 de Agosto, têm aplicado sucessivos pacotes de sanções a Moscovo, sendo os mais pesados aqueles que incidem sobre o seu sector exportador energético, nomeadamente a redução a prazo de quase 100% do crude e bastante impactante igualmente no gás natural, ao mesmo tempo que se viram, especialmente Alemanha e polónia, para a reabertura das desastrosas unidades de produção de energia a carvão, fechadas há anos devido aos seus gigantescos contributos para os actuais insustentáveis níveis de geração de gases poluentes.

"Primeiro eles saltaram em frente (eliminando o carvão) e, depois, cortaram os suprimentos de gás russo, regressando a tudo (carvão) o que insultavam", ironizou Putin, citado pelo site da Russian Today, acrescentando que andar para trás e para a frente no uso de energias mais poluentes como o carvão, "não é, seguramente, a melhor opção para alcançar os objectivos ambientais propostos para resolver os problemas globais".

Recorde-se que a União Europeia tem planeado deixar de importar gás e crude russos até 2027, impulsionando a produção de energia verde até lá, mas a verdade é que, como já admitem lideres europeus, uma previsível catástrofe energética este Inverno na Europa ocidental pode gerar mudanças dramáticas nos planos.

Isto, porque ao contrário de países geridos com mão de ferro como a Rússia, no seio da União Europeia dificilmente os governos resistirão a uma generalizada insatisfação popular.

África é o continente onde as alterações climáticas estão a gerar mais mortes e crises alimentares e sociais em todo o mundo e quaisquer evoluções no processo de transição energética têm uma importância e um impacto nos seus 54 países que impõem uma atenção especial e permanente ao assunto.

Basta considerar o que se passou nos últimos anos no sul de Angola, onde as prolongadas secas têm gerado milhares de deslocados e centenas de milhares correm riscos alimentares, embora este problema tenha sido minimizado nos últimos dois anos com projectos de transvase que vão fazer chegar água às áreas mais fustigadas pela falta de chuva.