Numa comunicação ao país após a repressão brutal das forças de segurança sobre uma manifestação, no Domingo, organizada por associações católicas, da qual resultaram pelo menos seis mortos, dezenas de feridos e mais de uma centena de detenções em todo o país, mas com especial enfoque na capital, Kinshasa, o cardeal Monsengwo deixou uma questão no ar: "Estamos nós numa prisão a céu aberto?".

Sim, parece ser o entendimento do religioso, quando, após lançar a pergunta, ontem, em Kinshasa, diz não ser possível entender a forma se "matam homens, mulheres, crianças e idosos" que estavam nas ruas a cantar cânticos religiosos munidos de bíblias e cruxifixos.

"O que queremos conseguir com este comportamento?", interrogou-se o cardeal, indo mais longe ainda ao perguntar a, sem identificar mas com óbvio destino, Kabila se quer "o poder pelo poder ou o poder como ferramenta para conseguir o desenvolvimento integral do povo, em paz e com justiça e verdade?".

Monsengwo disse que o povo congolês quer ver no seu país "a força da lei e não a lei da força".

Recorde-se que as forças de segurança da RDC reagiram com violência, incluindo o recurso a armas de fogo com balas reais às duas manifestações organizadas no sei das associações de raiz católica, no dia 31 de Dezembro e no passado Domingo, 21, ambas para exigir o cumprimento do acordo assinado entre Kabila e a oposição, com os bispos católicas a mediarem as negociações.

Este acordo, denominado Acordo de São Silvestre, por ter sido assinado a 31 de Dezembro de 2016, previa a realização de eleições gerais até ao fim de 2017, mas não foi cumprido, alegando o Governo de Kabila que não existiram condições financeiras para o efeito.

Depois, o Governo de Kabila preparou o país para que as eleições gerais fossem realizadas até final de 2018, contra a vontade da oposição mas ideia à qual a comunidade internacional, com a ONU à frente, optou por conceder o benefício da dúvida com uma espécie de ultimato para o caso de não ser cumprido mais este prazo.

Estas manifestações de católicos, que têm por detrás o beneplácito dos partidos da oposição liderados por Félix Tshisekedi, filho do lendário Etienne Tshisekedi, falecido no início de 2017, mostram claramente que os bispos que ajudaram a negociar o acordo de 2016 não acreditam na palavra de Joseph Kabila e exigem que as eleições tenham lugar de imediato.

Kabila viu o seu segundo e último mandato permitido pela Constituição terminar em Dezembro de 2016 mas, através de expedientes, já conseguiu, pelo menos, mais metade de um terceiro mandato.

Parte da sociedade congolense afecta à oposição acredita que Kabila prepara o xadrez político para avançar com uma alteração à Constituição que lhe permita abrir caminho a uma terceira candidatura.