A Língua do Povo não pode ser ouvida por quem não ouve com o coração, por quem não tem amor pelo próximo e por quem não desenvolveu qualquer sentimento de patriotismo. A Língua do Povo não se mistura com as intrigas intestinais dos bastidores palacianos, com as repugnantes lutas de poder, nem com a maldade de uma governação estéril em soluções e débil na liderança.

A Língua do Povo é poderosa, nunca foi bajuladora e sobreviveu sempre a todos os governos e a todos os Impérios, que são efémeros, sobretudo aqueles que, de forma míope e sem humanidade, nunca a respeitaram. Ninguém consegue confundir a Língua do Povo por mais hábil que ache que é. Ninguém consegue mentir eternamente à Língua do Povo porque a ela é adversa à desonestidade e sabe sempre onde está a verdade por ser a Consciência Nacional.

A Língua do Povo só pode ser ouvida por quem não sofre de Dissonância Auditiva, por quem não se aproxima de forma interesseira a cada eleição e por quem não a usa de forma indigna oprimindo a sua liberdade, a sua cidadania e a sua felicidade. Quem fala a Língua do Povo não lhe mata os filhos de fome, não lhe inibe o conhecimento mantendo-a refém de um ensino sem qualidade e sem futuro, não lhe rouba a vida porque não lhe oferece saúde. Quem fala a Língua do Povo senta-se aos seus pés de forma humilde e ouve a sua opinião, a sua sabedoria e homenageia o seu voto não desprezando ninguém depois da tomada de posse.

A Língua do Povo só é ouvida por aqueles que de forma genuína lhe dão voz sem esperar nada em troca. Por aqueles que na calada de toda a publicidade escutam as suas orações e ajudam em segredo a mitigar a fome dos seus filhos. Por aqueles que acreditam apenas nas coisas que fazem sentido e acham que Angola é muito grande e todos somos poucos para a edificar de forma eficiente e digna. Só é ouvida por aqueles que sabem a diferença entre esperar e perder tempo e por isso deixaram de ouvir a história das montanhas que só sabem parir pequenos ratos inúteis.

A Língua do Povo conhece a situação real do País melhor que todos os governantes, porque apendeu a viver na insuficiência de todos os Direitos, vivendo com o estômago colado às costas em todos os sentidos e não precisa que pessoas que não amam nem o povo, nem a verdade, nem Deus, lhe transmitam uma informação deturpada e hostil. A Língua do Povo é lúcida e está atenta e não precisa que os mestres da manipulação a avisem para que não se deixe confundir.

A Língua do Povo não é militante, não se restringe a uma única religião, nem tem um perfil homogéneo. A Língua do Povo é feita de liberdade e imaginação virtudes que garantiram a sua sobrevivência desde a chegada da Nau Catrineta e nestes 46 anos de desencontro com o seu próprio país. É a prova de que a sabedoria popular e a coragem de um povo são mais fortes do que qualquer ideologia, qualquer reinado e contra ela o poder político não vence, como tão sabiamente nos demonstra a História mundial desde os primórdios da Humanidade.

O tempo é de incertezas, de cautela e de ponderação. Quem não tiver sabedoria para escutar a Língua do Povo e continuar a achar que fala a Língua do Povo, sem na verdade ter construído esta capacidade, que não surge da débil qualidade de ser "militante obediente com poder, mas sem sabedoria emocional", estará a plantar ventos e com toda a certeza colherá tempestades. A paciência dos povos é elástica, mas em momento nenhum da História foi eterna. Apenas com humildade, sabedoria, ética, patriotismo, amor pelo próximo, respeito e genuíno sentido de Estado se consegue escutar a Língua do Povo para, depois e só depois, aprender a falá-la.