Faz-nos falta uma política clara e bem definida para a diáspora. Durante anos, nunca se definiu uma estratégia para se aproveitar, potenciar e agregar os vários saberes e valores das comunidades angolanas espalhadas pelo mundo. Ainda existe alguma dificuldade e resistência por parte de certos sectores da política e da diplomacia em lidar com a sua própria diáspora. A questão da ausência de votos sempre foi algo que marcou profundamente os angolanos no exterior. Estarem impossibilitadas de exercer um direito de cidadania, de elegerem os seus representantes, sem uma razão plausível, é, até hoje, algo que mexe muito com as nossas comunidades.

Naquele encontro com o PR João Lourenço, a comunidade angolana em Portugal deixou bem claro que o argumento da questão logística e financeira sempre foi um bode expiatório para os impedir de votar, até porque Angola era (ou ainda é) o único País dos PALOP cujos cidadãos não votam, mesmo tendo maiores e melhores condições que muitos de outras nações afins.

"Há uma Angola que também acontece fora de Angola", foi um mote que criei e usei quando me apercebi de que havia, entre nós, sectores que hostilizavam, rotulavam ou até colocavam em causa o patriotismo ou angolanidade daqueles que um dia, por iniciativa própria ou por força das circunstâncias, se decidiram a deixar a sua terra natal e começar a vida no estrangeiro.

É preciso redireccionar e alargar o âmbito de actuação do Instituto das Comunidades Angolanas no Exterior e Serviços Consulares (ICAESC), procurar fazer que esteja mais vocacionado para acompanhar e atender às nossas comunidades espalhadas pelo mundo. Além de ser uma instituição desconhecida por grande parte da comunidade angolana no exterior, o ICAESC parece ainda muito fechado em si mesmo e potenciando muito pouco a sua presença junto dos nossos cidadãos. Idêntico reparo deve ser feito ao papel do secretário de Estado para as Comunidades, cuja função se justifica pela existência das nossas comunidades no exterior.

Penso que a função está com um excesso de carga política e formal, quando devia ampliar muito mais o seu papel de coordenação, orientação e cooperação com as tais comunidades. É preciso um maior acompanhamento e colaboração entre cidadãos e as instituições. É necessário melhorar a abordagem e o tratamento dados aos nossos cidadãos funcionários de serviços consulares ou missões diplomáticas, fazendo que uma ida a tais instituições não seja sinónimo de burocracia, de arrogância ou soberba no tratamento, mas que seja um sinal de segurança, conforto e tranquilidade, como acontece com muitos cidadãos de outros países e as suas autoridades.

O facto de termos um Presidente da República que agenda encontros com as comunidades durante as visitas de Estado ou oficiais é um sinal de respeito às mesmas. É uma espécie de nivelamento por cima, obrigando a que os seus auxiliares sigam o exemplo, percebendo que a principal função de um Estado é a defesa e a protecção dos seus cidadãos. A diáspora angolana também ainda sofre com certa desigualdade de tratamento, e é necessário perceber que o facto de estar fora do território nacional não faz deles menos cidadãos ou menos angolanos do que quem está no território nacional.

Também durante muitos anos se hostilizaram cidadãos pelo facto de terem tomado a opção de deixar o País, pelo facto de assumirem certa opção política, uma visão e postura crítica. Hoje percebemos que o País perdeu e ainda perde muito com isso. Hoje, percebemos que não temos um plano estruturado de captação de quadros angolanos no exterior. Agora é a vez, agora é a voz e é o voto da diáspora. Mas que esta vez e que a voz só se faça ouvir quando se precisar do voto da diáspora. Sempre se negou o voto à diáspora porque se tinha receio do poder da sua voz e do resultado das suas escolhas. Não se fez chegar a sua vez, não se fez ouvir a sua voz, pois se tinha medo do seu sentido de voto.

"Há uma Angola que também acontece fora de Angola", uma Angola culta e adulta, uma Angola respeitada e respeitadora, uma Angola com valor e valorizada, uma Angola que tem sabido fazer valer a sua voz e que deve ter voto na matéria quando a questão é pensar e discutir o País. Uma diáspora que sempre teve voz, que soube lutar pela sua vez e que agora também vai poder ir a votos.