Foi com a promessa de que o Governo arranjaria uma empresa para substituir a Zap como patrocinadora do Campeonato Nacional da I Divisão que muito clubes, principalmente do escalão maior do nosso futebol, entenderam reconduzir Artur Almeida e Silva no "cadeirão" da FAF. Como em Angola o crédito nas "ordens superiores" é quase cego, ninguém questionou sequer donde viria o tal dinheiro e por que razão não foi o Governo a anunciar o patrocínio, já que é ele o angariador. Ou mesmo a própria firma patrocinadora a divulgar a "boa-nova". A maior parte dos votantes acreditou piamente que iria chover dinheiro de uma qualquer empresa para o "Girabola".

Ao acreditar na informação prestada pelo candidato Artur Almeida e Silva, segundo a qual o Governo iria dar uma "ordem superior" para que uma empresa qualquer substituísse a Zap, alguns dirigentes do futebol nacional demonstraram de que material são feitos, ou seja, deixaram claro quão despreparados são. Se não, atentemos: numa economia de mercado, mesmo fingida como a nossa, o Governo não tem competência para ordenar a nenhuma empresa privada que faça isto ou aquilo. E muito menos que dê dinheiro a terceiros contra a sua vontade, investindo num produto de que pode não ter retorno. Isso não acontece em lado nenhum. Isso só pode ser ficção.

As parcerias no desporto são, geralmente, ditadas por critérios objectivos de ganhos recíprocos entre as partes envolvidas. E quando o produto objecto de investimento é efectivamente bom, não é necessário que o Governo se vista de cipaio e brama o cacetete para obrigar a empresa X ou Y a sponsorizar federações ou clubes. Nesses casos, o que acontece são marcas interessadas disputarem quase à galheta a oportunidade de associar-se a marcas vencedoras. Um exemplo disso mesmo é o andebol. Sendo uma modalidade vencedora, na medida das suas necessidades tem arregimentado patrocínios que lhe permitem viver com a cabeça muito acima do nível da água.

Provavelmente a vontade de meter a mão na massa terá cegado os dirigentes que votaram em Artur Almeida e Silva a ponto de não se questionarem sobre coisas elementares. Um desses questionamentos é com que base o Governo iria "intimar" uma empresa privada a patrocinar o "Girabola". É consabido que, ao fazê-lo, o Executivo estaria a violar de forma despudorada a Lei da Concorrência e de livre mercado. Estaria a jogar com cartas marcadas. E sendo, à partida um ente de bem, o Governo jamais faria isso. Na verdade, isso sequer lembra ao Diabo, de tão absurdo que é.

Outro questionamento que escapou à gente seduzida (ou abduzida?) pela promessa do candidato é o facto de nunca ter revelado que empresa iria patrocinar o "Girabola". Aos eleitores não foi apresentada uma marca concreta. Apenas lhes foi dito que há um patrocínio substancial que iria "segurar" a mais importante competição do desporto doméstico. Para a gente que votou na Lista do presidente cessante, isso era bastante para merecer confiança quase cega. O que não deixa de ser preocupante e leva-nos a questionar seriamente a qualidade do dirigismo desportivo angolano.

Também ninguém se deu ao trabalho de saber ao menos onde estava o dinheiro em causa. Se num banco ou noutro local qualquer. Se havia ao menos contrato-promessa, qualquer papel escrito que assegurasse tal patrocínio. Simplesmente acreditaram no "milagre da multiplicação" e caíram (?) no conto do vigário, como se diz em linguagem popular. E isto é grave. Isto quer dizer que os dirigentes que votaram por causa dessa promessa não passam de "maria vai com as outras"... E, seguramente no estado em que se encontra, o futebol angolano não precisa deste tipo de gente. Decididamente não, sob pena de levar a modalidade para a sargeta da patranhice.

Mais estranho ainda foi praticamente ninguém ter questionado sobre as razões que levariam o Governo a mandar patrocinar um produto (o futebol) com potencial de venda próximo do zero, quando tem outros (andebol e basquetebol, por esta ordem de precedência) com grande potencial. Além dessas modalidades, há outras que necessitam e merecem muito mais apoio e não o têm. Por essas razões, qualquer pessoa com dois dedos de testa não iria "comprar" esse "peixe". Iria, antes, questionar-se e chegar à verdade ou próximo disso.

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