Tratou-se, no essencial, de uma investigação sobre a apropriação ilícita para benefício pessoal de bens públicos com valores incalculáveis.

Estavam e estão em causa, e apresentados como tais, responsáveis de instituições de Estado que, directa ou indirectamente, também beneficiavam do respaldo do partido que desde a independência de Angola exerce o poder, o MPLA.

No período anterior à tomada de posse do actual Presidente da República, João Lourenço, estas situações eram objecto de murmúrio, da palavra segredada e, aqui e além, objecto de denúncias por um ou outro jornalista angolano, entre os quais Rafael Marques, William Tonet e Aguiar dos Santos.

Porém, a dimensão e intensidade da guerra que Angola viveu até 2002 e as condições favoráveis para a dinamização de uma "economia de casino" em resultado da alta do preço do petróleo até 2014, ao iludir o desenvolvimento económico-social do País, fizeram "proteger" situações de ilicitudes, inclusive desta gravidade.

Isso não impediu que instituições e vozes corajosas do exterior de Angola tivessem, de modo crescente e em diferentes formas e graus, colocado o dedo na ferida que existia.

A argumentação que passou a ser veiculada por altos responsáveis de Angola para justificar o injustificável é que seria necessário criar uma burguesia nacional e que, para isso, havia que proceder à acumulação primitiva do capital!!!

Há sempre várias formas de fornecer roupagem a ilícitos, mesmo que muito graves, chegando-se ao ponto de se sustentar que não há relação entre a defesa de princípios e valores, a democracia e o desenvolvimento, e que África é um caso à parte, como se tudo neste continente fosse permitido.

Já vi, inclusive, escrito, sem que tremesse a mão ao autor, a tese de que desmandos desta natureza eram resultado da colonização, sem que se tenha presente que Angola é independente há 45 anos, e que a esmagadora maioria da sua população nasceu já num país independente.

Quem assim escreve nem cuidou de ver que, ao fazê-lo, estava a tratar os angolanos de irresponsáveis e inimputáveis.

Na série divulgada pela TPA, tendo em atenção os factos relatados, estes são, obviamente, de enormíssima gravidade, quer pela dimensão, quer pela reiteração.

Os relatos que se viram e ouviram são passíveis de condenação qualquer que fosse o Estado em que ocorressem.

Como as sociedades se guiam por exemplo e não descuram os que vêm "de cima", os riscos de uma corrosão transversal tornaram-se uma realidade, convertendo em regra o que devia ser excepção.

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