Infelizmente, estas queimadas têm afectado também as áreas de conservação do País, como é o caso do Parque Nacional do Bicuar (PNB), situado na província da Huíla, SW Angola, onde o número e a intensidade das queimadas nos últimos anos são, particularmente, alarmantes, com uma tendência para um aumento no período de apenas 10 anos (2000-2010).

Principais causas e consequências das queimadas
São várias as causas para a ocorrência de queimadas, as principais incluem aquelas associadas às actividades humanas, como acontece, por exemplo, durante a produção e colheita do mel, devido à caça e também ao tipo de agricultura, normalmente em muitas regiões do País (agricultura itinerante ou de corte e queima). Outras vezes, as queimadas e os incêndios florestais são deliberadamente feitos, sem que haja uma causa plausível para que estes ocorram. As consequências são as que mais preocupam, pois existem muito poucos estudos sobre a temática em Angola, além das consequências e perdas humanas, que geralmente são reportadas. Pouco se sabe sobre as consequências das queimadas e dos incêndios florestais sobre a biodiversidade, com particular realce para a flora. Para além das consequências imprevisíveis das alterações climáticas que tendem a trazer períodos de seca cada vez mais severos, como as que se assistem hoje no Sul e Sudeste do País, o que poderá também contribuir para a ocorrência da incidência das queimadas nos ecossistemas naturais.
Causa de perturbação da vegetação do parque
Baseando-se nestas lacunas, conduzimos um estudo no PNB, que se baseia na observação a longo-prazo dos principais ecossistemas que compõem o parque. Os resultados permitiram identificar as principais causas de perturbação, relacionadas com a mortalidade das principais espécies arbóreas, que incluem: o fogo, a herbivoria (elefantes), o corte selectivo (madeira e lenha) e a mortalidade por térmitas (afecta geralmente árvores já envelhecidas). Os resultados mostram ainda ter havido um aumento significativo no número de indivíduos (árvores) mortos, no período de aproximadamente dois anos, período compreendido entre a realização do primeiro e do segundo censo. O fogo está entre os factores que mais contribuíram para a elevada mortalidade de árvores, tendo igualmente contribuído para a alteração da composição da vegetação nestas áreas, com o desaparecimento de algumas espécies arbóreas mais susceptíveis ao fogo, dando lugar a outras, consideradas mais resistentes.

Consequências para a conservação e ecoturismo
O PNB é um dos poucos exemplos do País em que os esforços de conservação, encabeçados pelo Executivo angolano e dos seus principais parceiros, tem contribuído para restaurar a biodiversidade do parque, numa altura em que Angola procura dar passos seguros, rumo à diversificação da sua economia, e isso passa certamente pelo desenvolvimento do sector do Turismo. As consequências das queimadas sobre a biodiversidade, principalmente aquelas que ocorrem no pico da época seca, a julgar pela sua frequência e intensidade, são ainda difíceis de quantificar. A perda de diversidade vegetal do parque é um facto, o seu impacto ecológico, bem como as suas consequências sobre as outras espécies, com realce para os animais, são desconhecidos. O processo de savanização em curso no parque, devido ao fogo, é, sem dúvidas, um dos factores que por si só poderão dificultar o desenvolvimento do ecoturismo, pois os animais, que são a principal atracção de um parque, podem facilmente escapar à vista dos turistas, devido a uma grande densidade dos arbustos, em detrimento das árvores. Existe, por isso, a necessidade da tomada de medidas urgentes, que passam para a alocação de mais recursos (humanos, materiais e financeiros) ao parque, de forma a melhorar a sua gestão, de contribuir, verdadeiramente, para o processo da diversificação económica e para a empregabilidade no sector do Turismo, bem como geração de receitas para o desenvolvimento local.

*Investigador Auxiliar no Herbário do Lubango, Departamento Ensino e Investigação de Ciências da Natureza do ISCED-Huíla