Nada é eterno em si. Só o todo. O. R

Construir um edifício é tarefa complexa. Mais ainda se esse edifício é um país. Um país inserido num continente, parte de um todo que pode ir para lá da nossa compreensão.
Que tipo de país estamos a construir? Ao ler as declarações das nossas honoráveis ministras da Saúde e da Educação, não pude deixar de questionar. Ambas referem que o orçamento não é o que "todos desejariam", mas que é o orçamento "possível". A percentagem do OGE atribuído à Saúde até diminui, comparado com a do ano passado. Como referido num interessante editorial do jornalista João Armando, no semanário que dirige, a proporção dos recursos atribuídos aos vários pelouros, já de si questionável, não esgota o tema da insuficiência do atribuído aos sectores que todos consideram prioritários. É indispensável analisar a execução do OGE, pois, não raro, os sectores mais gulosos acabam por exceder as suas dotações orçamentais, enquanto os ditos prioritários (e seria importante saber porquê) não conseguem sequer utilizar os valores que lhe são atribuídos no papel. O que preocupa é que sem um sério investimento nos sectores verdadeiramente estruturantes, tendemos a construir trambolhos, com bases estreitas.
E daí vêm a incúria, falta de responsabilidade, corrupção e incapacidade de fazer que os investimentos resultem, eliminando os efeitos nocivos de estruturas que funcionam inquinadas por material deficiente.
Para não nos repetirmos com a Saúde e a Educação, veja-se a Justiça e a administração. Num País em que a maior parte dos documentos de identificação, e os que atribuem a titularidade de bens privados, já estão informatizados, continua a ser um quebra-cabeças a obtenção dos mesmos de forma célere e transparente, salvo raras e devidas excepções. Documentos como o Bilhete de Identidade e o Passaporte, o Livrete e o Título de Registo de Propriedade já não deveriam ser um problema para o cidadão. E ainda são. Surge quase sempre a complicação, para que apareça o intermediário, que, naturalmente por uma módica quantia, é essencial para "agilizar" o processo.
A qualidade de um edifício vê-se pelos pormenores. O País que queremos continua longe de apresentar os acabamentos que gostaríamos de nele ver e apreciar.
Mas tudo começa pelo sonho e pelas fundações: a Educação e a Saúde, que permitam a força e a consciência social para que os cidadãos de facto o sejam, cumprindo com os seus deveres e exigindo os seus direitos, para que todos façam a sua parte neste complexo bric-à-brac, que é o conjunto de propósitos, de acções e realizações que contribuem para a construção de um bom edifício, o país que nos faz falta.
Para que o discurso e a prática conjuguem.