Vivemos hoje numa sociedade com muita informação, mas, ao mesmo tempo, muito desinformada. Com as novas tecnologias, a manipulação de informação é muito mais rápida, sofisticada e massificada. O excesso de informação, aliado à desinformação e contra-informação, facilita a manipulação e manobras de diversão. O problema é que estas informações não são apenas falsas, são também criadas ou inventadas para confundir e manipular os mais distraídos ou menos atentos. Uma sociedade que promove e alimenta a calúnia, difamação e o assassínio de carácter é uma sociedade que se vai engolir a si mesma, vai-se autoflagelar. As sociedades que não pautarem por mínimos éticos e morais não se vão desenvolver, não irão avançar.

Começa a haver entre nós uma atitude perniciosa e hostil ao mérito e à competência. Há como que uma resistência cultural, social, institucional e agora virtual a tudo aquilo que esteja associado à competência. O negacionismo é agora uma forma de ser e de estar de muitos. Negar o outro, negar e anular as suas qualidades, experiências e competências passou a ser o objectivo final. Mais do que a morte da competência, da negação do mérito, da realidade e da coerência, estamos a assistir ao triunfo da incompetência. Lidamos mal com a competência alheia e, por isso, facilmente alinhamos em qualquer manobra ardilosa para atacar e descredibilizar os outros.

Basta que qualquer figura que se esconde de forma vil e ignóbil no anonimato partilhe uma suposta lista de " Grecimados" e alinhe todos no assassínio de carácter, nos juízos de valor e na adjectivação. Basta que algum "iluminado" insinue nas redes sociais ou qualquer plataforma digital promotora de "jornalixo" divulgue sem bases, sem fundamento, sem critérios e sem contraditório que um grupo de jornalistas é avançado de empresário X ou Y e começa o julgamento virtual. Criam-se listas de " jovens milionários angolanos" sem bases, sem fundamentos, mas com o fim único de visar os progenitores destes alegados jovens milionários e também de criar indignação e agitação social.

Há muitos ainda que fazem confusão que um cidadão tido e criado no Cazenga consiga, com a sua inteligência, esforço, mérito e competência granjear respeito em altas esferas académicas, jurídicas e políticas nacionais e internacionais. Faz algumas "alergias" que, fruto destas qualidades, tenha atingido cargos de destaque e relevância política e académica, sendo visto até como uma referência nas instituições onde estudou e lecciona.

Quando a sua trajectória, a história, origens humildes e saber deviam orgulhar-nos e servir de referência, preferimos chafurdar na lama da ignorância e alimentar jogos de difamação. Se uma mulher é bem-sucedida profissionalmente, o mérito e a competência são sempre colocados no fim da tabela de avaliação. Primeiro, alimenta-se a teoria do privilégio de nascimento, se essa não vingar, vai-se pelo privilégio de relacionamento (é sempre mais fácil e alivia justificar a sua ascensão com base numa relação afectiva e de preferência extraconjugal), juntam-se outros critérios de avaliação determinados pelos pseudo-avalistas até se chegar (e se se chegar lá) ao mérito.

É arrogância na expressão do dito conhecimento perante a fragilidade ou simplicidade do verdadeiro conhecimento. Entre nós, os incompetentes são" mais do que as mães "e vão triunfando. São incompetentes demais para agir na transparência, na clareza do discurso, frontalidade e coerência. Escudam-se no anonimato ou falsos perfis, aliam-se aos promotores do dito "jornalixo" para o assassínio de carácter e devassa da vida alheia. É só aproveitar o mar de desinformação das redes sociais para colocar todos a " surfar na onda" do populismo e sensacionalismo bacoco. Todos temos culpa, todos nos tornamos "incompetentes" e ajudamos a triunfar a incompetência, quando partilhamos informação falsa e caluniosa, porque não queremos perder tempo a fazer a sua verificação, cruzar dados ou confrontar factos.

Todos somos "incompetentes" quando partilhamos (porque gostamos) do que lemos no conteúdo difamatório, pois atacam ou dizem mal de alguém que não gostamos, ou porque o conteúdo nos dá razão ou confirma uma opinião pré-concebida sobre alguém. Todos somos "incompetentes", mesmo sabendo que certo conteúdo finta a lógica, a coerência e a razão, mas partilhamos, disseminamos e alimentamos, uma vez que ele pode ser um instrumento para anular a competência do outro. A competência está a morrer e estamos todos a ver. Resta-nos assistir com uma certa impotência ao triunfo da incompetência.