Nesta edição, temos o orgulho de apresentar um trabalho em sua homenagem, fruto de uma relação de respeito e consideração para com este combatente, poeta e intelectual moçambicano e a sua família, que estamos a publicar em exclusivo depois de ter sido publicado em Moçambique.

É importante ainda frisar que a honra de Angola, nesta data, foi salva por via da acção da Fundação Agostinho Neto, que decidiu na data do seu aniversário lhe atribuir a Ordem Sagrada Esperança.

Que se passa connosco, com princípios e valores que gritámos a toda a gente professar e que passaram a não valer um chavo, neste atropelo de vida que levamos, onde não há espaço para a memória, para o respeito, sequer para uma réstia de orgulho que podia, apesar de tudo, habitar em nós? Em que nos transformámos, nos vazios com que fingimos preencher as nossas vidas, que não nos deixam espaço para cumprir um legado que nos foi entregue e que parece também ele ter passado a ter um preço para que o cumpramos? Em que momento houve o corte entre as consciências que pareciam existir e às quais se tentava fazer corresponder com as acções necessárias para dar suporte ao que a honestidade e a seriedade intelectual de cada um e de todos exigiam? Foi quando os valores materiais começaram a reluzir e o assalto aos poderes se começou a consumar? Foi para saciar a "fome secular" de que fala o nosso Mestre, Camarada e Amigo Mário Afonso d"Almeida (Kasesa)?

Há muita gente ainda viva que, não sendo participante directa da História exemplar das décadas de 40, 50 e 60 do século XX, é discípulo directo de quem preencheu esses momentos, únicos e decisivos para a conquista das nossas Independências. Filhos, netos, qualquer que seja a relação familiar, ainda andamos muitos por aqui. O que nos leva a silenciar, a esquecer, ou a fingir que esquecemos alguns dos pilares dessa luta? Como nos vamos sentir no momento dos balanços das nossas vidas, olhando para um passado não tão distante assim, que parece esfumar-se como se não fosse tão ou mais importante do que os momentos, os anos, as décadas que levamos já de países independentes, pelo menos politicamente? Só nos faltava que, depois de termos falhado tanto, de termos errado tanto, ou, no mínimo, de termos permanecido em silêncio enquanto víamos a avalanche de erros e disparates avolumarem-se, ainda levássemos a cegueira material e os interesses imediatos ao ponto de varrermos da nossa memória todas e todos graças a quem pudemos ser independentes. Só faltava não termos um pingo de vergonha por não termos nada para contar aos filhos, aos netos, aos mais novos, perdidos entre valores de que ouvem falar mas que nunca viram postos em prática e uma realidade dura e cruel em relação ao que não sabem como reagir ou lutar. Não nos esqueçamos. Países sem memória ou de memória curta nunca serão países de verdade. Serão caricaturas, meras caricaturas de países. É o que temos para oferecer aos que vêm a seguir?