Apanhada em contramão, a oposição, ao sair da toca, fá-lo-á agora a reboque de uma decisão que pode devolver ao Presidente a iniciativa política, depois de a ter perdido nos últimos tempos, com graves danos para a sua imagem.

Toda a gente, em dó menor, falava há muito da necessidade de uma revisão constitucional. Mas, com medo do discurso do medo criado na antiga era e oleado na nova era, não se dizia nada lá dentro. Nas cercanias, para além da UNITA - uma honrosa excepção - ninguém tinha a coragem de levantar o véu.

Ao mexer no tabuleiro político, o Presidente nalguns casos provocou o amortecimento do ímpeto de reivindicações legítimas de vários segmentos da sociedade e, noutros casos, acabou por desvalorizar o alarido sem sentido dalguns partidos da oposição.

Mas, não deixou também de sinalizar cedências que abrem espaço à desconstrução do medo do debate a céu aberto em torno do alargamento dos parâmetros constitucionais que poderão ajudar a edificar uma governação alicerçada num sólido sistema de "checks and balances".

Aproveitando a aposta recente da oposição noutro tipo de reivindicações que na verdade tiveram à cabeça a sociedade civil, o Presidente apresentou 40 artigos que vão ser revogados e que, nalguns pontos, levarão à redução da sua influência no exercício do poder por parte de outros órgãos de soberania, que poderão finalmente ser senhores dos seus destinos, libertando-se do espectro das famigeradas "ordens superiores"...

Mas, personificando o que era suposto ser a nossa esquerda, o MPLA não deixa de revelar medo da afirmação dos grandes talentos e de dar indícios de soçobrar perante o surgimento de novos actores e sobre o posicionamento de uma sociedade civil cada vez mais acutilante, vigilante e crítica.

Dominado pelo imobilismo e pela acomodação material de quem, em vez de militante, age como funcionário público, o espírito de sobrevivência aliado à mediocridade política, parecem estar agora a determinar a conduta dos seus fiéis.

Mas, o discurso do medo parece agora andar de mãos dadas com o discurso do oportunismo. Fala-se muito da crise, mas, com medo do discurso do medo, só em voz baixa se destapam os desvios, roubos e esquemas de corrupção montados à volta da campanha contra a Covid-19 e das obras do PIIM.

E no plano político o que aconteceu?

Aqui, passou a assistir-se, ao nível da nossa partidocracia, à plena institucionalização da "silenciocracia", como lhe chamou a jornalista Luzia Moniz, num notável artigo publicado há uma semana neste jornal. Hoje, já ninguém tem dúvida de que no meio da sala há um elefante moribundo.

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